
Sara Alvarez Solas, UNIR – Universidad Internacional de La Rioja
Os animais não humanos também têm mictórios públicos, onde se reúnem não apenas para se aliviar, mas também para se comunicar e fazer amigos. De fato, a maioria dos mamíferos defeca e urina repetidamente nos mesmos locais e compartilha esses espaços com outros membros do grupo — o que são conhecidos como “latrinas”.
Um estudo publicado na Current Biology destacou sua função social. Nele, uma equipe da Universidade de Kyoto (Japão) confirmou pela primeira vez o comportamento “contagioso” de urinar entre chimpanzés — algo semelhante ao bocejar.
Antes disso, pesquisadores já estudaram algumas espécies de primatas, como os macacos bugios (Alouatta), por usarem latrinas e apresentarem comportamento “contagioso” de defecação — algo que parece contribuir para distribuir nutrientes e sementes na floresta tropical.
Outras espécies, como os macacos-aranha (Ateles), apresentam comportamentos semelhantes. Os pesquisadores registraram esse “contágio” durante a defecação, principalmente em poleiros. Esse comportamento ajuda a espalhar sementes e desempenha um papel fundamental na preservação da floresta tropical.
Mas as funções dessas latrinas são muitas e variadas. Entre elas estão a defesa do território, com um aumento das visitas nas noites em que aparecem intrusos, ou uma importante função social, para facilitar a comunicação, já que são usadas nas áreas centrais dos territórios pelos membros do grupo, mesmo no caso de primatas solitários.
Ir ao Banheiro para Socializar
Diversos estudos vêm analisando a função social das latrinas por diferentes abordagens. Embora muitos pesquisadores se concentrem no papel das fezes na dispersão de sementes, outros destacam a urina como o elemento mais relevante nesses espaços.
Os autores do artigo de hoje revelaram uma descoberta importante e inédita: esse comportamento também se liga ao status social. Embora os chimpanzés não sejam animais solitários e vivam em grupos, eles têm um sistema social de fusão-fissão, como foi descrito em humanos, no qual os indivíduos se separam temporariamente em subgrupos menores e voltam a se reunir. Isso ocorre principalmente em relação à distribuição de recursos (variáveis ecológicas) e aos custos da organização social(vida em grupo).
Assim, o comportamento síncrono de urinar poderia facilitar a comunicação nesse sistema social, e foi relatado em outras espécies mais solitárias. Nesse caso, os indivíduos subordinados eram mais propensos a urinar quando outros indivíduos realizavam esse comportamento, apontando para uma possível forma de comunicação relacionada à sua hierarquia social, observam os autores.
Xixi, um Mar de Informações
Sabemos que os indivíduos em grupos usam a urina como fonte de várias informações, como o status reprodutivo e os níveis de testosterona. Podemos até medir como a ocitocina presente na urina influencia o comportamento social.
Agora, graças a estudos como o da universidade japonesa, também sabemos que o comportamento de urinar juntos, em sincronia, tem um significado social importante para nossos parentes próximos, cuja repercussão na estrutura do grupo pode ser uma estratégia social para os diferentes indivíduos do grupo.
Você já percebeu que o comportamento de urinar também pode ser contagioso em humanos? Como os autores destacam, ainda temos muito a estudar a esse respeito, mas parece que também devemos observar os pequenos detalhes para aprender mais sobre nossa própria evolução.
Acredite ou não, muitos estudos neurobiológicos analisam os mecanismos subjacentes à micção humana voluntária e alguns até exploram o papel dos banheiros públicos masculinos como locais culturais, onde, além disso, essa prática pode estar ligada à expressão da masculinidade.
Sara Alvarez Solas, Directora de Desarrollo Académico Internacional, UNIR – Universidad Internacional de La Rioja
This article is republished from The Conversation under a Creative Commons license. Read the original article.