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Ayahuasca e Dissolução Do Ego: Estudo Mostra Como Psicodélicos Apagam Barreiras Entre Eu e Outro

Ayahuasca e Dissolução Do Ego: Estudo Mostra Como Psicodélicos Apagam Barreiras Entre Eu e Outro
Ayahuasca e Dissolução Do Ego: Estudo Mostra Como Psicodélicos Apagam Barreiras Entre Eu e Outro
Índice

A ayahuasca, tradicionalmente usada por povos amazônicos, está no centro de uma pesquisa científica que desafia nossas certezas sobre identidade e percepção. Pesquisadores da Suíça e Itália, liderados por Dila Suay, reuniram trinta homens adultos para um estudo inovador: investigar como a combinação de DMT e harmina, inspirada na ayahuasca, altera o modo como o cérebro reconhece o próprio rosto em comparação ao rosto de outros. O rigor experimental foi alto: cada participante passou por três sessões separadas, recebendo placebo, apenas harmina, ou a mistura de DMT com harmina. Além disso, sempre com intervalo de duas semanas para evitar influências entre as experiências.

Durante cada sessão, os voluntários eram submetidos a uma tarefa de reconhecimento facial, visualizando imagens do próprio rosto, de pessoas famosas e de desconhecidos, enquanto tinham a atividade cerebral monitorada por eletroencefalograma (EEG). Esse aparato permitiu registrar em detalhes as etapas do processamento cerebral, desde a percepção visual inicial até a identificação do rosto como sendo o próprio ou de outra pessoa. O uso do EEG foi fundamental para mapear o impacto do psicodélico em cada momento da percepção.

Os resultados são provocativos: o composto inspirado na ayahuasca modificou todas as etapas do reconhecimento facial. O cérebro ficou mais sensível à entrada visual, mas menos capaz de estruturar a informação e distinguir o próprio rosto do rosto alheio. Os próprios pesquisadores observaram o apagamento dos limites entre “eu” e “outro” nos sinais elétricos do cérebro. Os participantes também relataram sensações intensas de dissolução do ego e conexão ampliada.

Da Selva Ao Laboratório: Como O Cérebro Processa A Própria Imagem

Para além dos relatos subjetivos sobre “sentir-se uno com o universo”, a pesquisa conseguiu mostrar, de maneira objetiva, como essa dissolução de fronteiras acontece no cérebro humano. O DMT, administrado em conjunto com harmina para impedir sua rápida degradação, aumentou a resposta cerebral logo nos primeiros cem milissegundos após o contato visual, mostrando que o sistema visual ficou hiperativo. Porém, na fase seguinte, o cérebro mostrou menos capacidade de reconhecer rostos como entidades estruturadas — um efeito que vai além do simples embaralhamento visual.

A análise do sinal P300, que reflete o processamento mais profundo e autorreferente, revelou o ponto central do estudo: sob o efeito do DMT/harmina, a diferença entre a resposta ao próprio rosto e aos rostos alheios praticamente desapareceu. Ou seja, o cérebro deixou de dar importância especial à própria imagem, apagando a fronteira que normalmente separa o “eu” dos demais.

O efeito não foi generalizado para todo tipo de rosto. A resposta a rostos de pessoas conhecidas (como celebridades) se manteve estável, o que sugere que o composto psicodélico afeta principalmente o processamento ligado à identidade pessoal, e não à memória social como um todo. Essa seletividade reforça a hipótese de que o DMT com harmina age de modo específico sobre circuitos cerebrais ligados à autoimagem.

Implicações Terapêuticas da Ayahuasca e Limites Do Estudo

As descobertas deste trabalho lançam luz sobre por que psicodélicos vêm sendo testados como alternativa terapêutica para transtornos marcados pelo excesso de autoenvolvimento, como depressão e ansiedade social. Ao reduzir a rigidez com que o cérebro distingue o próprio “eu”, essas substâncias podem favorecer uma abertura para novas perspectivas e sentimentos de conexão com outras pessoas. É um campo promissor, mas que exige cautela: o estudo também observou que a dissolução do ego nem sempre é positiva. Muitos participantes relataram sensação de desorientação ou até mesmo ansiedade, mostrando que nem todos vivenciam esse efeito como algo transformador ou desejável.

Outra limitação importante está no perfil da amostra: apenas homens adultos saudáveis foram incluídos, o que restringe as conclusões. Além disso, o uso do EEG, embora excelente para identificar o tempo das respostas cerebrais, não permite mapear com precisão as regiões do cérebro envolvidas em cada etapa. Os autores sugerem que estudos futuros combinem técnicas como ressonância magnética funcional para detalhar ainda mais os mecanismos em jogo.

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O efeito observado também pode variar em outros contextos, doses ou em populações clínicas. Por isso, a generalização dos resultados deve ser feita com cautela. Pesquisas futuras devem investigar se essas alterações persistem após o efeito agudo da substância e como o cérebro reorganiza sua atividade ao longo do tempo.

Da Subjetividade À Evidência Objetiva: O Futuro Da Pesquisa Psicodélica com Ayahuasca

O trabalho liderado por Dila Suay mostra que é possível ir além dos relatos subjetivos sobre psicodélicos. Agora, as mudanças cerebrais durante a dissolução do ego podem ser medidas de forma objetiva. Isso traz relevância para a área clínica. Ao entender como o cérebro flexibiliza a percepção do “eu”, pesquisadores avançam no desenvolvimento de tratamentos para distúrbios ligados à identidade, autocrítica e isolamento social.

Os próximos passos envolvem analisar como essas alterações cerebrais afetam o comportamento e as emoções a longo prazo. Os pesquisadores também precisam investigar como ampliar os efeitos terapêuticos e minimizar experiências negativas, como ansiedade ou confusão.

O estudo destaca a necessidade de acompanhar participantes por períodos mais longos. Portanto, é essencial saber se a redução das barreiras entre “eu” e “outro” é temporária ou se pode levar a mudanças permanentes na percepção de si mesmo e na vida social.

Com o aumento do interesse por terapias psicodélicas, pesquisas assim fortalecem o debate científico. Mitos dão lugar a dados concretos. O cérebro mostra ser mais plástico do que se pensava. A ciência começa a desvendar como substâncias ancestrais podem redefinir identidade e pertencimento.

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