Um novo artigo publicado na Nature Mental Health destaca o potencial da terapia com psilocibina em oferecer benefícios abrangentes à saúde mental de pacientes enfrentando o sofrimento emocional relacionado ao câncer. Pois além de aliviar sintomas como ansiedade e depressão, o tratamento também reduziu a sensibilidade interpessoal, a hostilidade, a obsessão-compulsão e a somatização.
A abordagem combina a administração de psilocibina, um composto psicodélico extraído de certos cogumelos, com sessões de psicoterapia guiada. Diferentemente dos medicamentos psiquiátricos tradicionais, que exigem uso diário e podem demorar semanas para surtir efeito, este estudo indica que uma ou duas sessões supervisionadas com psilocibina podem oferecer alívio rápido e duradouro.
As sessões consistem em uma etapa de preparação com um terapeuta especializado, seguida da experiência controlada com psilocibina em um ambiente seguro, e finalizadas com sessões de integração para processar os insights obtidos. Essa abordagem já demonstrou eficácia no tratamento de transtornos de humor e ansiedade, especialmente em pacientes enfrentando doenças terminais ou sofrimento existencial intenso.
A Carga Emocional do Câncer e o Potencial da Terapia com Psilocibina
Pacientes com câncer frequentemente enfrentam uma carga psicológica avassaladora, com sintomas de depressão, ansiedade e angústia emocional. Dessa forma, toda essa carga emocional impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes e até mesmo seus desfechos clínicos. No entanto, tratamentos convencionais, como terapia e antidepressivos, frequentemente são insuficientes e podem causar efeitos colaterais indesejados ou demorar a apresentar resultados.
A psicoterapia assistida por psilocibina surge como uma alternativa promissora, pois oferece benefícios rápidos e duradouros. Embora pesquisas anteriores já tenham destacado sua eficácia no alívio de ansiedade e depressão, outros sintomas psiquiátricos frequentemente associados ao câncer, como hostilidade, sensibilidade interpessoal e somatização, ainda não haviam sido amplamente investigados.
O estudo conduzido por Petros D. Petridis, do Centro de Medicina Psicodélica da NYU Langone, aborda essa lacuna. Segundo ele, “pacientes com câncer enfrentam desafios psicológicos profundos, e muitos não encontram alívio nos tratamentos atuais. Nosso objetivo é oferecer esperança e contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.”
Resultados que Destacam a Eficácia e Potencial da Terapia com Psilocibina
A análise de dados de dois ensaios clínicos realizados em Nova York e Johns Hopkins aponta resultados impressionantes. Com 79 participantes, os estudos avaliaram pacientes que apresentavam ansiedade e depressão relacionadas ao câncer. Além disso, os pesquisadores dividiram os participantes, com idades entre 30 e 70 anos, de forma aleatória para receber doses altas de psilocibina ou tratamentos de controle, incluindo placebo ativo.
Uma dose alta de psilocibina refere-se a uma quantidade suficiente para induzir uma experiência psicodélica profunda. Geralmente, essa dose é ajustada com base no peso do paciente e costuma variar entre 20 a 30 miligramas por 70 kg de peso corporal. É administrada sob supervisão médica e terapêutica para garantir segurança e maximizar os benefícios terapêuticos.
Os pesquisadores usaram o Brief Symptom Inventory, uma ferramenta para avaliar nove dimensões psiquiátricas. Os resultados mostraram que a psilocibina reduziu significativamente seis sintomas: ansiedade, depressão, sensibilidade interpessoal, hostilidade, obsessão-compulsão e somatização. Além disso, de forma surpreendente, as melhorias surgiram semanas após a primeira sessão e persistiram por até seis meses.
Brief Symptom Inventory (BSI)
O Brief Symptom Inventory (BSI) avalia nove dimensões principais de sintomas psiquiátricos, que são categorias amplas de problemas emocionais e psicológicos. Essas dimensões incluem ansiedade, depressão, hostilidade, sensibilidade interpessoal, obsessão-compulsão, somatização, paranoia, fobias e psicoticismo. O termo “dimensão” define áreas específicas de funcionamento ou experiência psicológica que o sofrimento emocional pode afetar. Assim, cada dimensão inclui perguntas específicas, e os participantes avaliam a severidade dos sintomas em uma escala. Dessa forma, o BSI fornece uma visão abrangente da saúde mental do indivíduo, ajudando a monitorar mudanças nos sintomas ao longo do tempo, como os efeitos observados na terapia com psilocibina.
Potencial da Terapia com Psilocibina Para Aliviar a Somatização de Sintomas
A somatização refere-se à manifestação de sintomas físicos sem uma causa médica clara, frequentemente relacionados a fatores emocionais. Em pacientes com câncer, isso pode incluir dores ou desconfortos persistentes que os tratamentos convencionais não aliviam adequadamente. O estudo destacou que a psilocibina teve um impacto significativo na redução desses sintomas, então sugerindo seu potencial como uma alternativa para tratar manifestações físicas de origem psicológica que muitas vezes permanecem negligenciadas.
Limitações e o Futuro da Terapia Psicodélica
Apesar dos resultados encorajadores, a pesquisa apresenta limitações, pois a maioria dos participantes era branca, bem-educada e financeiramente estável, limitando a generalização dos achados para populações mais diversas. Além disso, muitos participantes já possuíam experiência com psicodélicos, o que pode ter influenciado suas respostas ao tratamento. A capacidade dos terapeutas de identificar quem recebeu psilocibina também introduziu um viés potencial.
Petros D. Petridis reconheceu esses desafios, afirmando que “futuros estudos devem adotar placebos mais robustos e mensurar possíveis vieses de expectativa.” No entanto, ele também destacou o impacto transformador da terapia, enfatizando sua visão de integrar essas práticas no cuidado convencional.
Com rigor científico e protocolos clínicos, a psilocibina promete inaugurar um paradigma inovador na saúde mental, oferecendo alívio abrangente para pacientes que enfrentam desafios emocionais intensos.