A alexitimia paterna pode influenciar o comportamento prosocial, um traço fundamental no desenvolvimento humano caracterizado por ações voluntárias que beneficiam os outros, como ajudar, compartilhar e demonstrar empatia. Desde a infância, fatores biológicos e sociais impactam esse comportamento, incluindo genética, qualidade da parentalidade e normas culturais. Dessa forma, crianças aprendem a interagir socialmente por meio da imitação e do reforço positivo, sendo encorajadas a praticar atos de generosidade e solidariedade.
Com o crescimento, o desenvolvimento cognitivo e emocional, especialmente a empatia e a capacidade de perspectiva, fortalece a adoção de comportamentos prosociais. O ambiente social, como escolas e interações entre pares, também desempenha um papel essencial na internalização de normas de cooperação e solidariedade. Além disso, estudos apontam que crianças que manifestam um comportamento prosocial mais desenvolvido tendem a apresentar maior sucesso acadêmico, relações interpessoais mais saudáveis e habilidades avançadas de resolução de problemas.
O Papel da Alexitimia Paterna e da Testosterona
O estudo conduzido por Osnat Zamir e sua equipe investigou se a alexitimia paterna antes do nascimento da criança influencia o comportamento prosocial infantil aos dois anos de idade. Alexitimia é um traço psicológico caracterizado pela dificuldade de identificar e expressar emoções. Dessa forma, impactando negativamente as interações interpessoais e a regulação emocional. Pesquisas anteriores já demonstraram que pais emocionalmente indisponíveis podem comprometer o desenvolvimento social e afetivo dos filhos.
O estudo analisou como a qualidade da coparentalidade – a capacidade dos pais de colaborarem na criação dos filhos – poderia mediar essa relação. A hipótese era de que pais com altos níveis de alexitimia demonstrariam uma parentalidade de menor qualidade. Assim, resultando em um impacto negativo no comportamento prosocial dos filhos. Além disso, a pesquisa explorou como a reatividade da testosterona em situações estressantes poderia influenciar essa dinâmica. O estudo focou especialmente em pais que apresentassem uma elevação média ou alta desse hormônio em resposta a desafios parentais.
Como o Estudo Sobre Alexitimia Paterna Foi Conduzido?
A pesquisa foi realizada com 105 casais heterossexuais que esperavam um bebê. A idade média dos casais era de 32 anos para os pais e 30 anos para as mães. A coleta de dados ocorreu em três momentos distintos: no terceiro trimestre da gravidez, três meses após o nascimento do bebê e quando a criança completou dois anos de idade. Apenas 74 casais permaneceram no estudo até a última fase, devido a desistências ao longo do período.
No primeiro estágio, os participantes visitaram um laboratório para avaliação da alexitimia paterna, utilizando a Escala de Alexitimia de Toronto. Os pais também participaram da tarefa da “Boneca Inconsolável” que representa uma simulação de estresse parental. Pois a brincadeira envolvia interagir com um bebê robótico que chorava de forma persistente e não respondia a tentativas de acalmá-lo. Amostras de saliva foram coletadas antes e depois dessa tarefa para medir os níveis de testosterona.
Na segunda fase, três meses após o nascimento do bebê, os pais relataram a qualidade da coparentalidade por meio da Escala de Relação de Coparentalidade. Por fim, quando a criança completou dois anos, a terceira fase do estudo envolveu a aplicação de duas tarefas para medir o comportamento prosocial da criança: uma na qual o experimentador deixava cair propositalmente um marcador e outra em que soltava um rolo de fita, avaliando se a criança espontaneamente ajudaria a recolher os objetos.
Escala de Alexitimia de Toronto
A Escala de Alexitimia de Toronto (TAS-20) é um instrumento amplamente utilizado para medir a dificuldade de uma pessoa em identificar, descrever e processar suas próprias emoções. Composta por 20 itens, a escala avalia três dimensões principais: dificuldade em identificar sentimentos, dificuldade em descrever sentimentos para os outros e pensamento externamente orientado, ou seja, a tendência de focar mais em eventos externos do que em estados emocionais internos. Aplicada em contextos clínicos e de pesquisa, a TAS-20 ajuda a diagnosticar graus de alexitimia. Além disso, a compreender o impacto em aspectos psicológicos e relacionais, como parentalidade e comportamento social.
Escala de Relação de Coparentalidade
A Escala de Relação de Coparentalidade (CRS – Coparenting Relationship Scale) é um instrumento utilizado para avaliar a qualidade da parceria entre os pais na criação dos filhos. Composta por diferentes domínios, a escala mede aspectos como apoio mútuo, conflitos na coparentalidade, acordo sobre práticas parentais e envolvimento na tomada de decisões sobre a criança. Aplicada em pesquisas e intervenções familiares, a CRS permite identificar dinâmicas positivas e negativas na coparentalidade. Dessa forma, ajudando a entender como a colaboração ou o desentendimento entre os pais pode impactar o desenvolvimento infantil e o bem-estar da família.
Conexões Entre Emoções Paternas, Testosterona e Comportamento Infantil
Os resultados mostraram que a tarefa da Boneca Inconsolável provocou um aumento nos níveis de testosterona dos pais. Pois pais com níveis mais elevados de alexitimia e que apresentaram um aumento significativo da testosterona exibiram menor qualidade de coparentalidade três meses após o nascimento da criança. Essa coparentalidade de menor qualidade, por sua vez, foi associada a menos comportamentos prosociais nas crianças quando completaram dois anos.
Ao testar um modelo estatístico, os pesquisadores identificaram que a relação entre alexitimia paterna, aumento da testosterona e comportamento prosocial infantil era válida apenas para pais que tiveram uma elevação média ou alta dos níveis de testosterona após a tarefa estressante. Assim sugeringo que a interação entre fatores emocionais e biológicos desempenha um papel essencial na parentalidade e, consequentemente, no desenvolvimento infantil.
O Que Esses Resultados Sobre Alexitimia Paterna Significam?
O estudo mostra uma relação complexa entre a saúde emocional dos pais, sua resposta hormonal ao estresse e o comportamento social dos filhos. Pois pais com dificuldades emocionais podem enfrentar desafios na coparentalidade. Além disso, as dificuldades ficam mais evidentes se também apresentam aumentos expressivos de testosterona em momentos de estresse, essa dificuldade se intensifica. Isso pode prejudicar a qualidade da interação com a criança e impactar negativamente sua socialização.
No entanto, é importante destacar algumas limitações do estudo. A maioria dos participantes era de classe média ou alta, o que pode restringir a aplicabilidade dos resultados a populações de diferentes contextos socioeconômicos. Além disso, o estudo não estabelece relações de causa e efeito, apenas associações estatísticas entre os fatores analisados.
Implicações para a Parentalidade e Desenvolvimento Infantil
Os resultados deste estudo reforçam a importância do apoio emocional para pais, especialmente aqueles que demonstram dificuldades na expressão e regulação de emoções. Estratégias como terapia, grupos de apoio e intervenções parentais podem ser fundamentais para melhorar a qualidade da coparentalidade. Pois assim, podem promover um desenvolvimento mais saudável para as crianças.
Além disso, o estudo levanta questões sobre a relação entre biologia e comportamento parental. O impacto da testosterona sobre as interações parentais sugere que intervenções voltadas para a redução do estresse parental podem ter efeitos positivos não apenas sobre os pais, mas também sobre o desenvolvimento social e emocional dos filhos.
Referência
O estudo “The intersection between alexithymia, testosterone reactivity, and coparenting in fathers predicts child’s prosocial behavior” foi conduzido por Osnat Zamir, Noa Oved, Ohad Szepsenwol, Roi Estlein, Jessica L. Borelli, Douglas A. Granger e Dana Shai e publicado na revista Hormones and Behavior. Para acessar o artigo completo, clique aqui.