O turismo de observação de baleias se consolidou como um dos segmentos mais lucrativos do turismo ecológico, movimentando bilhões de dólares anualmente. No entanto, seu real impacto econômico ainda é frequentemente subestimado. Este estudo realizado na Praia do Forte, Bahia, não apenas quantificou a contribuição financeira da atividade, mas também revelou seu potencial para impulsionar o desenvolvimento sustentável da região.
Estima-se que globalmente, cerca de 14 milhões de pessoas participem dessa atividade por ano, gerando receitas diretas e indiretas superiores a 2 bilhões de dólares. No Brasil, a Praia do Forte emergiu como um dos principais destinos para a observação de cetáceos, atraindo milhares de visitantes por temporada. O impacto financeiro dessa demanda vai muito além das taxas de passeio. Isso ocorre, pois envolve toda a cadeia econômica local, desde hospedagem e alimentação até transporte e comércio.
Na temporada de 2023, aproximadamente 3.000 turistas participaram das excursões para observação de baleias na região. O gasto médio diário por visitante foi de R$ 841,73, o que resultou em um impacto econômico direto estimado em R$ 4,4 milhões. Quando considerado o efeito multiplicador na economia local, esse valor praticamente dobrou, alcançando R$ 9,3 milhões. Esse montante não apenas movimentou o setor turístico, mas também gerou entre 85 e 122 empregos diretos e arrecadou mais de R$ 800 mil em impostos.
Como o Dinheiro Circula no Turismo de Observação de Baleias
Para quantificar o impacto econômico da atividade, os pesquisadores utilizaram o Money Generating Model 2 (MGM2), porém adaptado para a realidade brasileira com base na Matriz Insumo-Produto (MIP). Esse método permite estimar o efeito multiplicador dos gastos turísticos, considerando não apenas os valores diretos, mas também a forma como esses recursos reverberam pela economia local.
O MGM2 baseia-se na seguinte equação:
Impacto econômico = número de visitantes x gasto médio diário x multiplicador econômico
A coleta de dados foi realizada entre julho e outubro de 2023, período de pico da temporada de observação de baleias. No total, foram aplicados 128 questionários, dos quais 117 foram validados para análise. Os dados revelaram um perfil turístico predominantemente composto por visitantes de São Paulo (37%) e Bahia (19%). Além disso, demonstrou forte presença de pessoas com nível superior e renda mensal superior a R$ 10.400,00. Essa composição de público justifica o alto gasto médio registrado.
O uso da Matriz Insumo-Produto foi fundamental para estimar não apenas os gastos diretos dos turistas, mas também os impactos secundários gerados pelo efeito multiplicador. Dessa forma, foi possível mensurar como cada real gasto se desdobra em benefícios adicionais para a economia local. Seja por meio do aumento do consumo em estabelecimentos locais, seja pela geração de novos empregos.
Um Motor Econômico Disfarçado de Ecoturismo
A observação de baleias não deve ser vista apenas como uma atividade recreativa ou uma ferramenta de conscientização ambiental. Os dados deste estudo deixam claro que seu impacto econômico é significativo e poderia ser ainda maior caso houvesse um investimento mais estratégico no setor.
As receitas geradas pela atividade não se limitam às operadoras de turismo. O setor de hospedagem e alimentação é um dos maiores beneficiados, respondendo pela maior parcela dos gastos dos visitantes. Restaurantes, hotéis e pousadas registram aumento significativo na ocupação durante a temporada de baleias, assim consolidando o turismo ecológico como um elemento-chave para o crescimento econômico da Praia do Forte.
Além disso, o estudo revelou que 85% dos turistas estariam dispostos a contribuir financeiramente para iniciativas de conservação das baleias e do ambiente marinho. Isso demonstra que há espaço para a implementação de programas de turismo sustentável que aliem arrecadação de fundos para projetos ambientais ao fortalecimento da economia local.
Desafios e Oportunidades para o Futuro do Turismo de Observação de Baleias
Apesar do crescimento expressivo da atividade, o turismo de observação de baleias na Praia do Forte ainda enfrenta desafios que limitam seu potencial máximo. A falta de regulamentação específica, por exemplo, pode comprometer a experiência dos turistas e o bem-estar dos animais. Além disso, a infraestrutura turística precisa acompanhar a demanda crescente, garantindo que a região consiga absorver o fluxo de visitantes sem comprometer seus recursos naturais.
Por outro lado, os dados apontam para oportunidades promissoras. O aumento da demanda por experiências turísticas autênticas e sustentáveis pode posicionar a Praia do Forte como um modelo de ecoturismo responsável. Investimentos em campanhas de marketing, infraestrutura e capacitação profissional podem ampliar ainda mais os impactos econômicos positivos.
A valorização da biodiversidade marinha e sua conversão em um ativo econômico legítimo representa uma mudança fundamental na forma como enxergamos a relação entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico. Em um mundo onde o turismo predatório ainda domina muitos destinos naturais, a observação de baleias na Praia do Forte prova que é possível lucrar sem destruir.
Referência
SPANHOLI, M.L.; BORGES, L.H.L.; CAMARGO, E.F.M.; PALAZZO JUNIOR, J.T.; CIPOLOTTI, S.R.C. Valor Econômico da Observação de Baleias: um estudo na Praia do Forte (BA). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.18, n.1, jan. 2025, pp. 153-179. Disponível em: Revista Brasileira de Ecoturismo.