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Preconceito Contra Ateus Pode Ser Um Sinal Disfarçado de Identidade Religiosa

Preconceito Contra Ateus Pode Ser Um Sinal Disfarçado de Identidade Religiosa
Preconceito Contra Ateus Pode Ser Um Sinal Disfarçado de Identidade Religiosa
Índice

Durante anos, pesquisas tentaram explicar por que o preconceito contra ateus persiste mesmo em sociedades que se dizem cada vez mais inclusivas. Nos Estados Unidos, onde a população que se identifica como sem religião cresce continuamente, a rejeição aos ateus ainda é tratada como algo socialmente aceitável em muitos círculos. Mas e se esse comportamento não tiver tanto a ver com medo moral, mas com a necessidade de sinalizar algo mais profundo. Por exemplo, como a própria identidade religiosa?

É exatamente isso que sugere um estudo publicado na revista Self & Identity, conduzido por Joshua T. Lambert e colegas. A pesquisa propõe um novo modelo para entender esse tipo específico de preconceito. Assim, a ideia de que a aversão aos ateus não é apenas sobre os ateus — é sobre quem a manifesta. Expressar esse tipo de hostilidade pode funcionar como uma espécie de “insígnia moral”. Dessa forma, sendo capaz de comunicar (ou reforçar) a religiosidade de alguém sem precisar mencionar Deus ou dogmas diretamente.

Preconceito Contra Ateus Pode Ter Função Expressiva

Tradicionalmente, justifca-se o preconceito contra ateus com base em argumentos como “falta de moral” ou “ameaça aos valores tradicionais”. Mas esses motivos não explicam o motivo pelo qual algumas pessoas sentem a necessidade ativa de externar seu desconforto, mesmo quando não há conflito direto com a figura do ateu.

O novo modelo proposto pelos autores recorre a três teorias psicológicas bem estabelecidas — self-presentationsymbolic self-completion e self-verification — para argumentar que o preconceito pode ser um instrumento de autoafirmação. Em outras palavras, dizer que não confia em ateus ou que não se relacionaria com um pode ser, na prática, uma maneira de dizer: “eu sou realmente religioso”. Essa manifestação serve tanto para confirmar internamente a própria fé quanto para sinalizar isso aos outros de forma socialmente codificada.

Assim como se usa um crucifixo no pescoço ou compartilha passagens bíblicas em redes sociais, manifestar hostilidade seletiva pode funcionar como um símbolo performativo de pertencimento. O estudo sugere, portanto, que essas atitudes não são apenas defensivas — elas têm uma função expressiva e estratégica.

As Cinco Etapas do Estudo Sobre Preconceito Contra Ateus

Para testar essa hipótese, os pesquisadores realizaram cinco estudos com 1.734 participantes, majoritariamente estudantes cristãos universitários nos Estados Unidos. Cada etapa investigou um ângulo diferente do comportamento.

Nos dois primeiros estudos, os participantes liam frases fictícias de pessoas que se diziam dispostas ou não a confiar/em se relacionar com ateus. O resultado aponta que as pessoas que expressavam desconfiança ou rejeição foram automaticamente percebidas como mais religiosas. Isso ocorreu, mesmo sem qualquer outro indicativo.

No terceiro estudo, os pesquisadores analisaram se os próprios participantes ajustariam suas opiniões dependendo do contexto. E sim: quando orientados a demonstrar religiosidade, os mais devotos aumentaram suas declarações de preconceito. Quando os pesquisadores instruíram os participantes a parecer neutros, eles moderaram significativamente suas opiniões. Isso mostra que o preconceito funciona como um recurso adaptável — um mecanismo que as pessoas ativam ou desativam conforme a conveniência de autoafirmação.

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Já o quarto experimento mostrou como o simples exercício de imaginar um trabalho conjunto com um ateu gerava desconforto emocional, especialmente quando a interação seria pública. Isso revelaria que a ameaça percebida à identidade religiosa é mais intensa diante da possibilidade de julgamento social.

Por fim, o quinto estudo testou se seria possível moldar esse preconceito por meio da manipulação da norma percebida. Quando os participantes acreditavam que “a maioria dos cristãos aceita os ateus”, seus próprios níveis de preconceito diminuíam — mas apenas se eles se identificavam fortemente como cristãos. Isso sugere que o preconceito é, em parte, normativo: um comportamento aprendido e reforçado por senso de pertencimento.

O Que Isso Diz Sobre Nossa Forma de Pertencer

Um ponto especialmente provocador do estudo é a constatação de que a rejeição a ateus pode ter pouco a ver com ateísmo em si. Em vez disso, está ligada à forma como os indivíduos performam sua religiosidade diante de um contexto social onde símbolos públicos de fé ainda possuem valor identitário.

Se isso for verdade, estamos diante de um fenômeno que não é exatamente religioso — é social. Trata-se de um uso estratégico do preconceito como um marcador de grupo. Um lembrete de que, mesmo em um mundo que preza pela tolerância, ainda usamos o “outro” como espelho para reforçar quem acreditamos ser.

Isso levanta questões incômodas: quantas outras formas de preconceito hoje não estão sendo usadas como ferramentas silenciosas de identificação social? O ódio e o desconforto são, muitas vezes, menos sobre quem é alvo e mais sobre quem aperta o gatilho.

Limites, Mas Nenhuma Inocência

É verdade que os autores reconhecem uma limitação: os participantes do estudo eram, em sua maioria, jovens cristãos americanos. Isso restringe a generalização dos achados a outras culturas, idades e religiões. Mas não reduz o poder das descobertas — afinal, os Estados Unidos continuam sendo referência em pesquisas sociais e abrigam algumas das tensões religiosas mais emblemáticas do Ocidente.

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Mais do que denunciar um comportamento, o estudo abre espaço para que pensemos com mais clareza sobre os códigos ocultos que utilizamos para “dizer sem dizer”. E sobre como esses códigos podem sustentar sistemas inteiros de exclusão — disfarçados de opinião, mas enraizados na necessidade de pertencer.

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