As oscilações hormonais do ciclo menstrual não impactam apenas o sistema reprodutivo; elas também remodelam o cérebro, como demonstrado por um estudo recente. Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, liderados pelas neurocientistas Elizabeth Rizor e Viktoriya Babenko, acompanharam 30 mulheres ao longo de seus ciclos menstruais e documentaram mudanças estruturais no cérebro associadas às flutuações hormonais.
O estudo aponta que as alterações cerebrais durante o ciclo menstrual podem abranger muito mais do que somente as áreas associadas ao sistema reprodutivo.
Entenda o Ciclo Menstrual
As variações hormonais ao longo do ciclo menstrual são um processo complexo que envolve uma série de mudanças cíclicas, reguladas principalmente pelos hormônios estrogênio, progesterona, hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH). Esse ciclo, que dura em média 28 dias, divide-se em quatro fases principais: menstruação, fase folicular, ovulação e fase lútea. Durante a fase folicular, o FSH estimula o amadurecimento dos folículos ovarianos, o que leva a um aumento gradual do estrogênio, promovendo o espessamento do endométrio no útero.
A ovulação ocorre em resposta a um pico de LH, que libera o óvulo maduro. Na fase lútea, a progesterona, liberada pelo corpo lúteo, prepara o útero para uma possível gravidez. No entanto, caso não ocorra fecundação, os níveis hormonais caem, levando à descamação do endométrio e ao início de um novo ciclo. Essas flutuações não apenas regulam a fertilidade, mas também impactam outras funções corporais, incluindo o humor, a energia e até a estrutura do cérebro, como estudos recentes têm demonstrado.
Mudanças na Estrutura Cerebral e no Ciclo Menstrual
As cientistas descobriram que durante o ciclo menstrual, há mudanças simultâneas na microestrutura da matéria branca e na espessura do córtex cerebral. A matéria branca, composta por fibras neurais que conectam regiões de matéria cinzenta, mostrou-se particularmente sensível às variações hormonais. Assim, apresentando mudanças estruturais que facilitam a transmissão de informações. Segundo os pesquisadores, isso sugere que o efeito dos hormônios no cérebro não se limita às áreas ricas em receptores da hipófise e dos ovários.
A descoberta contrasta com estudos anteriores que focavam no impacto dos hormônios sobre a comunicação cerebral durante atividades cognitivas, mas sem explorar profundamente as alterações estruturais do cérebro. A pesquisa de Rizor e Babenko vem preencher essa lacuna, ampliando nosso entendimento sobre como o cérebro responde ao ciclo menstrual.
Examinando o Cérebro Durante as Fases do Ciclo Menstrual
Para analisar essas mudanças estruturais, a equipe realizou ressonâncias magnéticas durante três fases do ciclo menstrual: menstruação, ovulação e fase lútea. Além disso, em cada uma dessas fases, foram medidos os níveis hormonais das participantes, possibilitando uma correlação detalhada entre os hormônios e as alterações cerebrais.
Os resultados indicaram que, próximo à ovulação, há um aumento nos hormônios 17β-estradiol e luteinizante. Isso causa modificações na matéria branca do cérebro, principalmente nas fibras nervosas cobertas por mielina. A mielina atua como isolante e facilita a comunicação rápida entre áreas cerebrais. O aumento desses hormônios parece otimizar a eficiência da mielina e reorganizar o alinhamento das fibras. Como resultado, os sinais elétricos se conduzem mais rapidamente, favorecendo a comunicação entre regiões do cérebro. Essa mudança impacta funções cognitivas, como memória e foco, ao melhorar a integração entre essas áreas.
Além disso, o aumento do hormônio folículo-estimulante (FSH) antes da ovulação foi associado ao espessamento do córtex cerebral. Esse aumento na espessura cortical indica a adição de novas conexões neuronais ou fortalecimento das existentes, potencialmente melhorando a capacidade de processamento e resposta cognitiva durante esse período.
Após a ovulação, ocorre um aumento na progesterona, que influencia o tecido cerebral. Esse aumento está associado ao crescimento do tecido cerebral e à redução do volume de líquido cefalorraquidiano. Esse efeito parece preparar o cérebro para um estado mais introspectivo e de preservação. Assim, representando um estado típico da fase lútea e que pode influenciar o humor e os níveis de energia. Cada um desses hormônios regula não apenas funções reprodutivas, mas também provoca mudanças estruturais no cérebro. Essas mudanças refletem-se em várias adaptações cognitivas e emocionais ao longo do ciclo.
O Que as Mudanças Estruturais Significam Para a Saúde Mental?
Embora a pesquisa ainda não tenha concluído os impactos funcionais dessas mudanças, os cientistas acreditam que essas variações na estrutura cerebral podem ter efeitos na cognição e no comportamento, especialmente em períodos de transição hormonal. Isso abre caminho para uma nova compreensão sobre o papel dos hormônios na saúde mental, particularmente em condições relacionadas ao ciclo menstrual.
Este estudo marca um avanço significativo no conhecimento sobre o efeito do ciclo menstrual no cérebro e lança uma base promissora para futuras pesquisas. É um passo importante para entendermos melhor como as flutuações hormonais impactam a mente e o corpo, oferecendo novos insights sobre a relação entre o ciclo menstrual e a saúde mental.