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O Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro e Sua Relação com a Agressividade

O Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro e Sua Relação com a Agressividade
O Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro e Sua Relação com a Agressividade
Índice
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A ideia de que o que acontece no intestino pode influenciar diretamente o comportamento do cérebro, aumentando, por exemplo, a agressividade, pode parecer surpreendente. No entanto, os pesquisadores liderados por Atara Uzan-Yulzari estão desvendando o papel crucial da microbiota intestinal na regulação da agressividade. Um estudo recente em ratos, publicado em Brain, Behavior, and Immunity, explora como alterações na composição bacteriana do intestino podem aumentar comportamentos agressivos. Dessa forma, evidenciando a conexão do eixo microbiota-intestino-cérebro.

Como o Eixo Microbiota-Intestino-Cérebro Influencia o Comportamento

Nos últimos anos, a ciência tem revelado um sistema de comunicação complexo entre o intestino e o cérebro, conhecido como eixo microbiota-intestino-cérebro. Ele é responsável por diversas funções fisiológicas, desde a digestão até a imunidade, e também interfere diretamente no humor e no comportamento. A microbiota intestinal, composta por trilhões de microrganismos, produz neurotransmissores e metabólitos que influenciam o funcionamento do cérebro. De forma prática, é como se as bactérias intestinais tivessem uma linha direta com o sistema nervoso central. Então, atuam regulando nosso estado mental através de vias neurais, imunológicas e endócrinas.

Essa interação é tão poderosa que doenças inicialmente tratadas como puramente neurológicas, como o Alzheimer e a ansiedade, têm apresentado relação com a composição da microbiota intestinal. Em experimentos, quando pesquisadores transferiram a microbiota de humanos com Alzheimer para ratos, esses animais desenvolveram déficits cognitivos semelhantes. Do mesmo modo, ao transplantar microbiota de pessoas com ansiedade social para ratos, os animais começaram a manifestar sinais de ansiedade.

O Papel dos Antibióticos na Disruptura do Microbioma e o Aumento da Agressividade

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O estudo de Uzan-Yulzari focou na relação entre a composição da microbiota intestinal e o comportamento agressivo. Para investigar esse fenômeno, os pesquisadores utilizaram ratos Swiss Webster, uma linhagem geneticamente diversa. Eles formaram quatro grupos experimentais: ratos livres de germes, ratos com microbiota normal (controle), ratos tratados com antibióticos (para perturbar a microbiota) e ratos colonizados posteriormente com microbiota saudável. Além disso, os pesquisadores colonizaram um grupo de ratos com microbiota de bebês humanos expostos e não expostos a antibióticos logo após o nascimento.

O impacto dos antibióticos foi particularmente notável. Esses medicamentos, amplamente utilizados no combate a infecções bacterianas, têm o efeito colateral de alterar o equilíbrio das bactérias intestinais. Isso inclui a eliminação de bactérias benéficas, o que pode prejudicar funções essenciais do organismo e, aparentemente, intensificar comportamentos agressivos. Ao transplantar microbiota de bebês expostos a antibióticos para ratos, os pesquisadores observaram um aumento significativo na agressividade dos animais.

Testando a Agressividade: O Teste Resident-Intruder

Para medir objetivamente o nível de agressão, os pesquisadores realizaram o teste resident-intruder, um protocolo comportamental bem estabelecido. Nele, ocorre o confronto de um rato “morador” com um rato “intruso” desconhecido em sua gaiola. A agressividade é quantificada com base no tempo até o primeiro ataque e no número total de ataques durante um período de 10 minutos.

Os antibióticos fizeram os ratos atacarem com mais frequência e iniciarem os confrontos mais rapidamente em comparação ao grupo controle, assim como aqueles que cresceram sem bactérias intestinais. Da mesma forma, os ratos que receberam a microbiota de bebês expostos a antibióticos apresentaram comportamentos muito mais agressivos em relação aos ratos que receberam microbiota de bebês não expostos.

Essa constatação traz implicações interessantes sobre a influência que a ausência ou perturbação do microbioma tem sobre o comportamento agressivo. O impacto é tão forte que, mesmo após um mês de recuperação das microbiotas dos bebês, a agressividade permaneceu evidente nos ratos que receberam esses transplantes.

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As Alterações Bioquímicas Relacionadas à Agressividade

Além das observações comportamentais, os pesquisadores também investigaram as alterações bioquímicas no cérebro dos ratos agressivos. Notavelmente, os ratos tratados com antibióticos e os livres de germes apresentaram um perfil metabólico distinto, com níveis elevados de triptofano—a substância precursora da serotonina, neurotransmissor crucial na regulação do humor. Ao mesmo tempo, os níveis de certos metabólitos microbianos, como o ácido indol-3-lático, foram reduzidos.

A serotonina, conhecida como o “hormônio da felicidade”, foi particularmente afetada. Houve uma redução nos níveis de serotonina no cérebro dos ratos agressivos, o que sugere uma ligação direta entre a ausência de uma microbiota saudável e a diminuição desse neurotransmissor essencial. Essa queda nos níveis de serotonina também foi associada à alteração de genes relacionados à agressividade, reforçando o papel do microbioma na regulação de comportamentos sociais.

A Complexa Relação Entre o Intestino e o Cérebro

O estudo de Uzan-Yulzari apresenta evidências convincentes de que a microbiota intestinal desempenha um papel central na modulação da agressividade. Ao demonstrar que o transplante de microbiota de humanos para ratos pode induzir mudanças comportamentais, os pesquisadores fortalecem a hipótese de que o eixo microbiota-intestino-cérebro regula não apenas processos fisiológicos, mas também comportamentos complexos, como a agressão.

Entretanto, os pesquisadores obtiveram esses resultados em ratos, uma espécie que, embora compartilhe muitas similaridades fisiológicas com os humanos, ainda é distinta. Por isso, os efeitos em humanos podem não ser idênticos. Esse trabalho abre novas possibilidades para investigar como a manipulação da microbiota pode, no futuro, tratar condições comportamentais e psiquiátricas, conectando a saúde intestinal à saúde mental.

Para mais detalhes sobre o estudo, consulte o artigo completo aqui.

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