Nos próximos 20 anos, mais de 70% da população mundial enfrentará eventos climáticos extremos, disparando o alerta de mudanças climáticas. Esses dados foram publicados em um estudo recente liderado pelos pesquisadores do Centro de Pesquisa Internacional do Clima (CICERO), na Noruega. O físico Bjørn Samset e sua equipe fizeram uma previsão alarmante: mesmo que houvesse uma redução dramática nas emissões de gases de efeito estufa, 1,5 bilhão de pessoas ainda seriam afetadas. No entanto, se seguirmos na trajetória atual, os impactos climáticos serão muito mais severos, e a maior parte da população mundial sofrerá as consequências.
Os pesquisadores são enfáticos: os efeitos devastadores das mudanças climáticas já estão em andamento, e grande parte do que está por vir é inevitável. “A única maneira de lidar com isso é se preparar para uma situação com uma probabilidade muito maior de eventos extremos sem precedentes, já nas próximas uma ou duas décadas”, explica Samset. O desafio é urgente, e a pergunta que fica é: estamos prontos para o que está por vir?
O Impacto Global do Aumento das Temperaturas Dispara Alerta das Mudanças Climáticas
Estamos vivendo as consequências de um planeta que aquece a uma velocidade sem precedentes. No Hemisfério Norte, o verão de 2024 foi o mais quente já registrado, quebrando o recorde do ano anterior. Enquanto isso, no Hemisfério Sul, os invernos também estão cada vez mais quentes. Dados do serviço de monitoramento climático Copernicus mostram um aumento global da temperatura que está causando incêndios, inundações, secas e tempestades em uma escala sem precedentes. Esses eventos, além de destruírem colheitas e criarem escassez alimentar, estão aumentando a disseminação de doenças.
A cientista do clima Jennifer Francis, do Woodwell Climate Research Center, fez uma comparação impactante: “Assim como as pessoas que vivem em zonas de guerra se acostumam ao barulho constante de bombas e tiros, estamos nos tornando surdos aos alarmes que deveriam nos alertar para o perigo iminente”. A metáfora ilustra como estamos normalizando um problema que está longe de ser resolvido.
Os pesquisadores alertam que o aquecimento global aumentará as temperaturas e intensificará a frequência e a severidade dos eventos extremos. Ondas de calor, chuvas torrenciais e ventos fortes poderão ocorrer sucessivamente ou simultaneamente. Isso indica que enfrentar apenas um problema climático por vez pode se tornar coisa do passado.
Desafios Múltiplos Com o Alerta das Mudanças Climáticas: Calor, Fogo e Enchentes
O que os pesquisadores descobriram é que o perigo não está apenas na frequência dos eventos extremos, mas na rapidez com que eles estão ocorrendo. Nos próximos anos, veremos um aumento em eventos como relâmpagos secos, que, combinados com condições de seca, estão alimentando incêndios cada vez mais intensos. Em 2022, uma onda de calor extremo atingiu o Paquistão, seguida por inundações sem precedentes, que afetaram milhões de pessoas.
Os cientistas do CICERO ressaltam que a sociedade está particularmente vulnerável quando vários desastres climáticos acontecem simultaneamente. Isso se torna um problema especialmente grave em áreas tropicais e subtropicais, onde vivem a maioria das pessoas no planeta. Regiões que já enfrentam calor extremo e falta de água verão suas situações se agravarem com impactos devastadores para a saúde, a economia e o meio ambiente.
As consequências são inúmeras: aumento da mortalidade por estresse térmico, perda de produtividade agrícola, dificuldades na refrigeração de usinas de energia e interrupções no transporte. Além disso, chuvas intensas podem causar inundações, prejudicar a infraestrutura e aumentar a erosão do solo. O cenário que se desenha para os próximos anos é desafiador, e a única certeza é que será preciso se adaptar rapidamente a essa nova realidade.
O Papel das Emissões e da Poluição do Ar
Embora cortar emissões seja uma medida urgente, há um dilema complexo envolvendo a poluição do ar. A meteorologista Laura Wilcox, da Universidade de Reading, aponta que a poluição do ar tem mascarado parte dos efeitos do aquecimento global, principalmente em regiões como a Ásia. A rápida limpeza do ar, embora benéfica para a saúde humana, pode acelerar as mudanças climáticas, levando a um aumento ainda mais intenso de condições extremas como ondas de calor e o impacto nas monções asiáticas.
Essa é uma faca de dois gumes: enquanto o controle da poluição do ar é crucial para a saúde pública, ele também pode desencadear mudanças climáticas mais abruptas. Dessa forma, os esforços globais para mitigar os efeitos do aquecimento precisam ser equilibrados com medidas de adaptação, principalmente nas regiões mais vulneráveis.
Preparar-se para o Pior: A Urgência da Mitigação e Adaptação
Os pesquisadores do CICERO deixam claro: as próximas décadas exigirão uma combinação de mitigação das mudanças climáticas e adaptação a condições extremas sem precedentes. Embora seja possível reduzir alguns dos impactos com cortes drásticos nas emissões, esses cortes também podem gerar novos desafios regionais. O que está em jogo é a capacidade de os governos, empresas e cidadãos se prepararem para um futuro em que eventos climáticos devastadores não serão exceção, mas a norma.
Enquanto as sirenes de alarme tocam, muitos ainda permanecem inertes. A pesquisa publicada na Nature Geoscience nos lembra que o tempo para agir está se esgotando rapidamente. A pergunta que fica para cada um de nós é: estaremos prontos para enfrentar um futuro moldado por extremos?