Um estudo recente da Universidade de Binghamton, nos EUA, sugere que a escolha alimentar pode estar diretamente ligada aos níveis de estresse percebido. Segundo a pesquisa, seguir uma dieta mediterrânea — rica em vegetais, frutas, grãos integrais e gorduras saudáveis — pode ajudar a reduzir os níveis de estresse. Por outro lado, uma dieta ocidental tradicional, rica em alimentos processados e açúcares, pode agravar essa sensação. Esses achados reforçam a crescente evidência de que nossa alimentação afeta não apenas nossa saúde física, mas também nosso bem-estar mental.
Níveis de estresse percebido referem-se à forma como uma pessoa avalia a intensidade do estresse que está enfrentando, independentemente dos fatores externos reais. Ou seja, mesmo que as circunstâncias objetivas da vida sejam as mesmas para duas pessoas, o estresse percebido pode variar conforme a percepção subjetiva de cada uma. Fatores emocionais, psicológicos e até biológicos influenciam o estresse percebido. Assim, pesquisadores utilizam este conceito pesquisas para entender como as pessoas sentem e lidam com os desafios diários. Portanto, avaliar os níveis de estresse percebido ajuda a identificar a percepção interna de sobrecarga e tensão. Dessa forma, oferecendo insights sobre a saúde mental e a capacidade de resiliência.
A pesquisa, liderada pela professora associada Lina Begdache, focou em investigar a relação entre padrões alimentares e estresse percebido. A equipe de Begdache procurou explorar como diferentes padrões alimentares, em particular as dietas mediterrânea e ocidental, influenciam essa percepção de estresse. Os pesquisadores testaram esta hipótese com uma amostra de 1.591 participantes, majoritariamente estudantes universitários, que relataram seus hábitos alimentares e níveis de estresse percebido.
O Papel dos Alimentos na Regulação do Estresse
Os participantes que seguiram a dieta mediterrânea relataram níveis mais baixos de estresse e angústia mental. Alimentos como vegetais de folhas verdes, frutas, nozes, grãos integrais e peixes — todos característicos dessa dieta — foram associados a uma maior resiliência ao estresse. Esses alimentos são ricos em nutrientes que apoiam a saúde cerebral, como vitaminas, minerais e antioxidantes que regulam neurotransmissores, substâncias químicas que influenciam o humor e as respostas ao estresse.
Por outro lado, aqueles que adotaram a dieta ocidental, com alta ingestão de alimentos processados, açúcares e alimentos de alto índice glicêmico, como pão branco e doces, relataram níveis mais altos de estresse e angústia mental. Alimentos como fast food, lanches açucarados e bebidas cafeinadas foram particularmente associados ao aumento do estresse. Esses achados sugerem que a dieta ocidental pode exacerbar o estresse ao promover inflamações e desregular hormônios cruciais para o controle do estresse.
O Papel da Dieta Mediterrânea para a Saúde Mental
O estudo destaca que alguns componentes da dieta ocidental, como carne e laticínios, não estão tão fortemente associados ao aumento do estresse quanto outros alimentos dessa dieta, como fast food e doces. Curiosamente, certas proteínas animais demonstraram uma leve associação negativa com o estresse, possivelmente devido à presença de nutrientes como a tirosina, um precursor do neurotransmissor dopamina, que regula o humor.
Entretanto, é importante notar que a pesquisa segue uma abordagem transversal, o que significa que os pesquisadores coletaram os dados em um único momento. Dessa forma, limitando a capacidade de determinar se a dieta mediterrânea realmente reduz o estresse ou se pessoas com menos estresse tendem a escolher esse tipo de alimentação. Além disso, o estudo contou com dados autorrelatados, o que pode introduzir vieses. A amostra, composta principalmente por estudantes universitários, também pode não refletir a população em geral. Assim, esse estudo levanta insights valiosos que sugere a necessidade de estudos futuros com uma amostra mais diversa.
O Caminho para Novas Pesquisas Envolvendo Elementos da Dieta Mediterrânea
O estudo abre novas questões para futuras pesquisas, como identificar quais componentes específicos da dieta mediterrânea são mais eficazes na redução do estresse. Quais nutrientes ou combinações de alimentos têm o maior impacto? Além disso, é essencial explorar os mecanismos biológicos por trás da relação entre dieta e estresse, investigando, por exemplo, o papel da inflamação e da saúde intestinal na promoção do bem-estar mental. Recentemente, estudos já demonstraram como a dieta paterna pode influenciar a qualidade dos espermatozoides. Dessa forma, destacando ainda mais a complexidade e a importância das interações entre alimentação e saúde.
Essas descobertas, publicadas em Nutrition and Health, abrem caminho para novas investigações sobre como padrões alimentares diferentes influenciam respostas ao estresse e angústia mental. A pesquisa foi conduzida por Ushima Chowdhury, Sabrina Bubis, Katerina Nagorny, Megan Welch, Lexis Rosenberg e Lina Begdache, contribuindo para a compreensão do impacto da alimentação no controle do estresse e no suporte à saúde mental.