A ansiedade em adolescentes é o transtorno psiquiátrico mais comum nessa faixa etária, afetando até uma em cada cinco pessoas jovens. Esses jovens enfrentam dificuldades maiores para lidar com eventos desafiadores e informações negativas, como avaliações sociais negativas (por exemplo, críticas de colegas). Assim, essa dificuldade leva a um funcionamento social e emocional inferior e altos níveis de reatividade emocional.
Isso pode ser explicado pela hipersensibilidade neural a estímulos negativos, ou seja, o cérebro desses jovens reage de forma exagerada a situações negativas. Por exemplo, ser avaliado negativamente por outras pessoas ou ver expressões faciais de desaprovação. Dessa forma, uma simples expressão facial de desaprovação pode parecer muito mais intensa e ameaçadora para uma criança ansiosa do que para uma criança sem ansiedade.
Além disso, é comum que os transtornos psiquiátricos persistam ao longo da vida desses jovens, mesmo após o tratamento da ansiedade em adolescentes. Isso inclui a continuidade homotípica, onde o mesmo transtorno de ansiedade persiste, e a continuidade heterotípica, onde outros transtornos psiquiátricos, como a depressão, podem surgir. Por exemplo, uma criança que tem ansiedade pode continuar a ter ansiedade na adolescência (continuidade homotípica) ou pode desenvolver depressão na adolescência (continuidade heterotípica).
A Importância do Calor Parental na Adolescência
A ansiedade clínica na infância é um forte indicador da recorrência de ansiedade e do surgimento de depressão durante a adolescência. Esse período já é conhecido por ser um momento de risco para esses transtornos. Pois é o momento que jovens enfrentam novos desafios sociais, como relacionamentos mais complexos e conflitos crescentes com os pais. Além disso, a adolescência traz um aumento da consciência social e da autoconfiança, o que torna ainda mais crucial entender como fatores ambientais positivos, como o calor parental, podem fortalecer a resiliência dos jovens contra esses riscos.
Apesar da influência dos amigos durante a adolescência, os pais continuam desempenhando um papel essencial no desenvolvimento emocional dos jovens. Estudos mostram que comportamentos parentais calorosos e comunicativos estão associados a níveis mais baixos de sintomas de ansiedade e depressão em crianças. Esses comportamentos ajudam os jovens a regular suas emoções em resposta a eventos estressantes, tornando-os mais capazes de enfrentar situações desafiadoras.
Histórico de Ansiedade em Adolescentes e Calor Parental
Para jovens com histórico de ansiedade, o calor parental é especialmente importante para prevenir o desenvolvimento de novos sintomas de ansiedade e depressão. No entanto, a relação entre paternidade e ansiedade infantil não é simples. Pais de jovens com ansiedade clínica podem se tornar superprotetores, o que inibe a autonomia desses jovens na resolução de situações desafiadoras. Os pais podem influenciar a manutenção da ansiedade em adolescentes por meio da transmissão de suas próprias cognições e expectativas, incentivando ou desencorajando comportamentos ansiosos.
Comportamentos parentais positivos que incentivam os jovens a enfrentar situações desafiadoras estão associados a melhores respostas ao tratamento cognitivo-comportamental em jovens com ansiedade. Fortalecer comportamentos que aumentam o calor parental, a autonomia do jovem e a comunicação entre pais e filhos durante o tratamento ajuda a mitigar o risco de recorrência de sintomas de ansiedade e depressão a longo prazo. Segundo a teoria da aceitação-rejeição parental, indivíduos que experimentam baixos níveis de calor parental são mais emocionalmente instáveis e mais propensos a perceber ameaças em contextos interpessoais.
O Estudo sobre Ansiedade em Adolescentes
Um estudo explorou a “teoria da aceitação-rejeição parental” em adolescentes sob diferentes perspectivas ao longo de dois anos e e testaram se tratamentos terapêuticos teriam efeito para reduzir a ansiedade. Para isso, os pesquisadores investigaram 30 adolescentes com histórico de transtorno de ansiedade. Além disso, também entrevistaram seus cuidadores principais, incluindo 29 mães biológicas e um pai.
Os participantes foram recrutados por meio de anúncios em mídia local, indicações de pediatras, conselheiros escolares, clínicas de saúde mental universitárias. Na avaliação inicial, jovens de 9 a 14 anos com ansiedade deviam atender aos critérios necessários para transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade de separação e/ou transtorno de ansiedade social. Excluíram-se jovens com diagnóstico primário para outros distúrbios mentais como: transtorno depressivo maior, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de conduta, abuso ou dependência de substâncias, ou TDAH do tipo combinado ou predominantemente hiperativo-impulsivo. Outros critérios de exclusão incluíam QI abaixo de 70, diagnóstico vitalício de transtorno do espectro autista, transtorno bipolar, depressão psicótica, esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo.
Tratamentos e Resultados do Estudo de Ansiedade em Adolescentes
Os participantes do estudo foram divididos aleatoriamente para participar de dois tipos de terapia de 16 semanas: terapia cognitivo-comportamental ou terapia centrada na criança. Na terapia cognitivo-comportamental, os jovens aprenderam habilidades para gerenciar a ansiedade e praticaram relaxamento muscular. Além disso, também participaram de sessões que os expunham gradualmente a situações que causam ansiedade. Na terapia centrada na criança, o terapeuta adotava uma abordagem não-diretiva, ouvindo ativamente e mostrando empatia, assim, incentivando os jovens a falarem sobre seus sentimentos.
Os dados foram coletados após o tratamento e novamente dois anos depois. Na avaliação pós-tratamento, cuidadores e adolescentes responderam questionários sobre sintomas emocionais e comportamentos dos pais. Então, dois anos depois, os adolescentes repetiram as entrevistas e questionários e participaram de uma ressonância magnética funcional (fMRI). Durante a fMRI, ouviram gravações de críticas e elogios feitos por seus pais, e suas respostas cerebrais foram medidas.
Correlações e Impactos no Cérebro com Ansiedade em Adolescentes
A principal descoberta do estudo foi que adolescentes que percebiam seus pais como mais calorosos tinham menor ativação em áreas do cérebro que processam emoções negativas e maior ativação em áreas que ajudam a regular essas emoções. Isso sugere que o carinho parental pode ajudar a proteger adolescentes com histórico de ansiedade contra a volta de sintomas emocionais, como ansiedade e depressão.
Sintomas de Ansiedade e Depressão
Os resultados mostraram que as meninas relataram níveis mais altos de sintomas de depressão e ansiedade dois anos após o tratamento. Além disso, os adolescentes mais velhos também apresentaram níveis mais elevados desses sintomas. Foi observado que os níveis de sintomas de ansiedade permaneceram altamente correlacionados ao longo do tempo, ou seja, quem tinha ansiedade pós-tratamento provavelmente ainda a tinha dois anos depois. Por outro lado, os sintomas de depressão mostraram uma correlação mais fraca ao longo do tempo.
Os adolescentes relataram o nível de calor parental (ou seja, como se sentiam acolhidos e apoiados pelos pais) logo após o tratamento e novamente dois anos depois. O estudo descobriu que a percepção do calor parental não mudou significativamente ao longo do tempo, mas também não era consistentemente estável para todos os adolescentes. Isso indica que, para alguns, as percepções sobre o apoio dos pais podem variar bastante.
Os adolescentes que participaram da terapia centrada na criança apresentaram níveis mais altos de sintomas de ansiedade e depressão dois anos após o tratamento. Por outro lado, aqueles que participaram da terapia cognitivo-comportamental (TCC) tiveram níveis menores deste distúrbio. Este achado sugere que a TCC pode ser mais eficaz para reduzir esses sintomas a longo prazo.
Ansiedade em Adolescentes Disparada pela Críticas dos Pais
Após a avaliação por ressonância magnética funcional (fMRI), os adolescentes classificaram as declarações críticas de seus pais como mais negativas e perturbadoras em comparação com declarações neutras. Isso mostra que as críticas dos pais têm um impacto emocional significativo nos adolescentes, independentemente do nível de calor parental percebido.
A percepção de calor parental logo após o tratamento foi um fator importante na ativação neural dos adolescentes em resposta às críticas dos pais dois anos depois. Adolescentes que perceberam mais acolhimento dos pais apresentaram menor ativação em regiões cerebrais associadas à saliência afetiva (como a amígdala e a ínsula) e à regulação emocional (como o córtex cingulado anterior e o córtex pré-frontal ventrolateral). Isso sugere que o apoio emocional dos pais pode ajudar os adolescentes a lidar melhor com situações críticas e reduzir a reatividade emocional negativa.
A Importância do Apoio dos Pais para Reduzir a Ansiedade em Adolescentes
O estudo investigou se o carinho dos pais percebido pelos adolescentes após o tratamento da ansiedade estava relacionado à resposta do cérebro às críticas dos pais dois anos depois. Os resultados mostraram que adolescentes que sentiam seus pais como mais carinhosos tinham menos atividade em partes do cérebro associadas a emoções negativas quando ouviam críticas.
Carinho parental pode se manifestar de várias formas, como dar abraços, ouvir atentamente, oferecer palavras de apoio, demonstrar afeto e estar presente nos momentos difíceis. Esses gestos ajudam os jovens a se sentirem amados e apoiados, o que é crucial para o seu desenvolvimento emocional.
Além disso, o estudo descobriu que o carinho dos pais estava ligado a menores níveis de ansiedade e depressão dois anos depois. Isso porque a área do cérebro que processa emoções negativas, era menos ativa nesses adolescentes. Jovens que percebiam mais acolhimento de seus pais tendiam a ter menos reatividade emocional e, consequentemente, menores níveis de ansiedade e depressão.
Esses achados reforçam a importância do carinho e apoio dos pais no desenvolvimento emocional dos adolescentes. Mesmo após o tratamento da ansiedade, o apoio dos pais continua sendo crucial para a saúde mental dos jovens, ajudando a evitar a volta da ansiedade e o surgimento da depressão.
Os resultados deste estudo destacam uma verdade poderosa: o amor e o apoio dos pais não são apenas gestos de afeto, mas sim pilares fundamentais na construção de uma base emocional sólida para os adolescentes. Investir no carinho e na presença ativa na vida dos filhos pode ser a chave para um futuro mais saudável e resiliente. Onde a ansiedade e a depressão encontram barreiras mais fortes para se estabelecer.