Resumo
- O AVC é uma das principais causas de morte e incapacidade globalmente, e um estudo recente destaca o impacto das temperaturas extremas nessa incidência;
- Baixas e altas temperaturas podem afetar o corpo de maneiras distintas, aumentando o risco de AVC devido a respostas fisiológicas adversas;
- Regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Socioeconômico enfrentam uma ameaça crescente de AVC relacionado ao calor, exacerbando desigualdades de saúde;
- Estratégias como infraestrutura sustentável, conscientização pública e cooperação internacional são essenciais para mitigar os impactos das temperaturas extremas no AVC;
- Ações individuais, como educação, participação comunitária, estilo de vida sustentável e engajamento político, também desempenham um papel crucial na prevenção do AVC em tempos de clima extremo.
No panorama global de saúde, o AVC (Acidente Vascular Cerebral) representa uma das principais causas de morte e incapacidade. Um estudo liderado por Chunrun Qu apontou para uma nova preocupação: o impacto significativo das temperaturas extremas na incidência de AVC. Dessa forma, este post explora como as variações climáticas extremas estão influenciando no aumento de AVC globalmente e destaca estratégias eficazes para mitigar esse fenômeno emergente.
A Influência das Temperaturas Extremas no AVC
Crescimento na Incidência e Mortalidade Causadas por AVC
Em 2019, as condições climáticas extremas contribuíram para aproximadamente 521.031 fatalidades decorrentes de AVC e afetaram cerca de 9.423.649 anos de vida, ajustados pela incapacidade (DALYs), em uma escala global. Portanto, os dados revelam que os homens foram desproporcionalmente mais impactados em comparação às mulheres, enfrentando uma maior prevalência e severidade nos efeitos do AVC. Dessa forma, as regiões da Ásia Central e Europa Oriental emergem como as mais impactadas, onde as temperaturas extremas ultrapassaram significativamente os índices de mortalidade e morbidade associados a essa condição. Dessa forma, esta disparidade geográfica sublinha a necessidade urgente de intervenções específicas que possam mitigar os riscos associados às flutuações severas de temperatura nessas áreas altamente vulneráveis.
Mecanismos de Risco Associados ao AVC
Efeitos das Baixas Temperaturas no AVC
Baixas Temperaturas influenciam diretamente a fisiologia cardiovascular de maneira adversa. Portanto, quando exposto ao frio extremo, o corpo humano responde através de mecanismos de conservação de calor que incluem vasoconstrição periférica, que é o estreitamento dos vasos sanguíneos na pele e nas extremidades para reduzir a perda de calor corporal. Esta resposta natural, no entanto, aumenta a pressão arterial devido à maior resistência ao fluxo sanguíneo. Simultaneamente, o frio pode aumentar a viscosidade do sangue, ou seja, o sangue torna-se mais espesso e lento, o que pode facilitar a formação de coágulos sanguíneos. Estas condições são fatores de risco primários para a trombose, onde coágulos sanguíneos se formam em vasos sanguíneos e podem eventualmente levar a bloqueios, resultando em AVC isquêmico, o tipo mais comum de AVC.
Efeitos das Altas Temperaturas no AVC
Altas Temperaturas, por outro lado, afetam o corpo de maneira diferente mas igualmente perigosa. O calor intenso pode resultar em desidratação, uma vez que o corpo perde mais água através do suor na tentativa de se resfriar. Assim, a desidratação severa reduz o volume de sangue, o que pode aumentar a concentração de substâncias coagulantes no sangue devido à menor quantidade de líquido para diluí-las. Este estado hipercoagulável eleva o risco de formação de trombos. Além disso, altas temperaturas também provocam a dilatação dos vasos sanguíneos, o que, paradoxalmente, pode aumentar a pressão arterial se o corpo estiver significativamente desidratado. Essas alterações hemodinâmicas aumentam consideravelmente o risco de AVC, particularmente o AVC hemorrágico, onde um vaso sanguíneo enfraquecido no cérebro rompe.
Ambos os cenários, tanto em condições de baixas quanto de altas temperaturas, ilustram a necessidade crítica de adaptação e preparação para extremos de temperatura, especialmente em regiões onde tais extremos são comuns. Ademais, a preparação pode incluir desde a implementação de alertas de saúde pública e a disponibilização de recursos como água e abrigos climatizados, até a educação da população sobre os riscos associados ao clima extremo e as melhores práticas para mitigar esses riscos. Estas medidas são essenciais para reduzir a incidência de AVC relacionada ao clima e proteger as populações vulneráveis.
Desigualdades de Saúde Também é um Fator Importante para o AVC
A incidência de AVC associada a temperaturas elevadas está aumentando significativamente em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (SDI), notavelmente em partes da África. Portanto, este continente, já vulnerável devido a infraestruturas de saúde precárias e recursos médicos limitados, enfrenta uma ameaça crescente com o avanço do aquecimento global. À medida que as temperaturas globais continuam a subir, previsões climáticas indicam que as ondas de calor serão mais frequentes e intensas, exacerbando ainda mais os riscos de saúde pública.
Além disso, as disparidades socioeconômicas nessas regiões resultam em uma menor capacidade de resposta dos sistemas de saúde pública, onde os serviços médicos e emergenciais podem ser subfinanciados e subequipados para lidar com um aumento na demanda durante ondas de calor. A falta de ar condicionado ou instalações adequadas para evitar o calor intensifica o problema, aumentando o número de casos de AVC relacionados à temperatura e agravando a taxa de mortalidade associada a esses eventos.
A situação é ainda mais complicada pela migração de populações vulneráveis para áreas urbanas superpovoadas e mal planejadas, onde o efeito “ilha de calor” — fenômeno que ocorre quando áreas urbanas se tornam significativamente mais quentes que suas áreas rurais circundantes devido a atividades humanas — pode intensificar as temperaturas extremas. Essas áreas densamente povoadas frequentemente sofrem com infraestrutura inadequada, aumentando o risco de eventos de saúde adversos como o AVC.
Estratégias para Mitigação e Prevenção
Para combater efetivamente os efeitos das temperaturas extremas sobre o AVC, é fundamental adotar uma abordagem proativa às mudanças climáticas. Assim, essa adaptação envolve o desenvolvimento e a implementação de políticas de saúde pública robustas. Portanto, tTais ações reconhecem a emergência climática e também se preparam para seus impactos diretos e indiretos na saúde humana.
Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável:
- Edificações Resilientes: Promover a construção de hospitais e instalações de saúde que possam resistir a condições climáticas extremas. Ademais, que sejam equipados com sistemas de energia alternativa para garantir a continuidade dos cuidados durante emergências.
- Sistemas de Água Eficientes: Implementar sistemas de gestão de água que maximizem a disponibilidade de água potável. Em especial durante ondas de calor, quando a demanda por hidratação aumenta significativamente.
- Urbanização Planejada: Projetar cidades que minimizem o efeito ilha de calor através de mais áreas verdes e superfícies refletivas. Assim, reduzindo assim o risco de AVC relacionado ao calor em áreas urbanas densamente povoadas.
Conforto Térmico e Acessibilidade:
- Acesso a Refrigeração: Assegurar que as populações vulneráveis, especialmente em regiões de baixo SDI, tenham acesso a ambientes climatizados durante ondas de calor. Isso pode ser alcançado através da instalação de centros de resfriamento comunitário e da distribuição de subsídios para ar condicionado.
- Vestuário e Proteção Pessoal: Distribuir informações e recursos que ajudem as pessoas a se protegerem do calor. Isso inclui o uso de roupas adequadas e protetor solar, fundamental para prevenir os efeitos adversos do sol.
Educação e Conscientização Pública:
- Campanhas de Informação: Realizar campanhas educativas sobre os riscos de temperaturas extremas e as melhores práticas para prevenção do AVC. Campanhas que abordem a importância da hidratação e do reconhecimento precoce dos sintomas de um AVC.
- Treinamento e Capacitação: Capacitar profissionais de saúde para identificar e responder eficientemente aos riscos de AVC durante períodos de temperaturas extremas. Dessa forma, incluindo o manejo de emergências médicas causadas pelo calor.
Políticas Públicas Integradas:
- Legislação Ambiental e de Saúde: Promover leis que integrem políticas de saúde e ambientais, garantindo que as estratégias de mitigação do calor e prevenção do AVC sejam inclusivas e abrangentes.
- Cooperação Internacional: Fomentar a colaboração entre países e organizações internacionais para desenvolver soluções inovadoras e compartilhar recursos e conhecimentos em resposta ao desafio global das mudanças climáticas e saúde.
Implementação Eficaz
A implementação dessas políticas requer um comprometimento governamental sólido, apoio de organizações não governamentais (ONGs) e parcerias público-privadas. Investir em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, educação pública, e saúde preventiva pode mitigar substancialmente os impactos das temperaturas extremas.
A evidente correlação entre as temperaturas extremas e as taxas de incidência e mortalidade por AVC ilumina uma crise de saúde pública em ascensão. Neste contexto de aquecimento global, entender e mitigar os impactos das variações climáticas severas se torna uma necessidade. Governos, instituições de saúde e cidadãos devem unir forças para formular e implementar estratégias eficazes. Assim, promovendo ações que aliviem e previnam os riscos associados a esses fenômenos extremos.
Ações que a População Pode Tomar Para Evitar o AVC
Educação e Autocuidado:
- Informação é Poder: Mantenha-se informado sobre os planos de ação e alertas de saúde locais relacionados a ondas de calor ou frio extremo. Compreender os sintomas do AVC e os primeiros socorros pode ser crucial em situações de emergência.
- Preparação Doméstica: Adote medidas para tornar seu ambiente doméstico mais resistente ao clima. Isso inclui instalar isolamento térmico, adquirir ventiladores ou ar-condicionado, e manter uma hidratação adequada durante ondas de calor.
Participação Comunitária:
- Apoio Comunitário: Engaje-se em programas locais de assistência comunitária que ajudem a preparar e proteger os mais vulneráveis. Assim, programas focados em idosos e pessoas com condições pré-existentes, contra o calor extremo ou o frio.
- Voluntariado: Colabore com organizações que trabalham na linha de frente durante emergências climáticas. Seja ajudando em centros de resfriamento comunitários ou distribuindo recursos como água e roupas apropriadas, sua participação pode salvar vidas.
Adoção de Estilo de Vida Sustentável:
- Redução da Pegada de Carbono: Contribua para a luta contra o aquecimento global. Esforços como reduzir o consumo de energia, utilizar transportes públicos, reciclar e apoiar energias renováveis são passos vitais.
- Promoção de Áreas Verdes: Incentive e participe da implementação de áreas verdes em sua comunidade. Parques, jardins e áreas arborizadas podem ajudar a moderar as temperaturas locais e proporcionar refúgio durante períodos de temperatura extrema.
Advocacia e Ação Política:
- Mobilização por Políticas Públicas: Faça pressão para que políticas públicas de saúde e ambientais considerem os impactos das mudanças climáticas. Assim, isso pode incluir legislação que garanta a disponibilidade de infraestrutura de saúde adequada e acessível em tempos de crise climática.
- Participação Eleitoral: Exerça seu direito de voto com responsabilidade. Faça isso apoiando candidatos que priorizem a sustentabilidade ambiental. Além disso, candidatos, que tenham como base o desenvolvimento de políticas de saúde pública que respondam eficazmente às necessidades provocadas por condições climáticas extremas.
Considerações Finais
A colaboração entre governos, organizações de saúde e cidadãos é essencial para desenvolver respostas eficazes que protejam as populações mais vulneráveis. Assim. por meio de educação, participação comunitária, práticas sustentáveis e advocacia política, podemos reduzir a prevalência de condições de saúde graves como o AVC. Além disso, também fortalecer nossa resiliência comunitária e global contra os desafios impostos pelo clima em constante mudança. Dessa forma, temos o poder de moldar um futuro mais seguro e saudável para as próximas gerações, mitigando os efeitos adversos das mudanças climáticas onde eles são mais devastadores.