Você já se perguntou por que o doomscrolling — o hábito de rolar a tela incessantemente em busca de notícias ruins — nos consome tanto tempo e, muitas vezes, nos leva a acompanhar obsessivamente a vida de celebridades? Um estudo recente publicado no International Journal of Psychology revela uma ligação intrigante entre esses comportamentos. Pesquisadores descobriram que pessoas que praticam o doomscrolling também tendem a apresentar altos níveis de adoração a celebridades. Assim, essa combinação, que pode transformar-se em vício comportamental, vem acompanhada de consequências para a saúde mental, como ansiedade e queda no bem-estar.
O Que é Doomscrolling e Por Que Nos Afetamos Tanto?
O doomscrolling é um fenômeno recente, alimentado pela facilidade de acesso às redes sociais e notícias. Consiste em rolar a tela por minutos, ou até horas, consumindo continuamente conteúdos negativos. Dessa forma, com o passar do tempo, essa prática afeta diretamente nosso humor e nossa visão de futuro, aumentando a ansiedade e diminuindo a satisfação com a vida. Mas por que continuamos fazendo isso? A resposta pode estar no funcionamento do nosso cérebro, que, embora busque evitar ameaças, tende a se prender a informações negativas — um impulso que as redes sociais exploram de forma incessante.
Adoração a Celebridades: Entre o Fascínio e a Obsessão
Se você já passou horas acompanhando detalhes da vida de uma celebridade, não está sozinho. A adoração a celebridades é outro comportamento impulsionado pela mídia, em que as pessoas se tornam excessivamente fascinadas por figuras públicas. Esse fascínio vai além da admiração e pode se transformar em obsessão, gerando sentimentos de ansiedade e insatisfação. Em culturas onde a fama é exaltada, como nos Estados Unidos, essa prática aparenta ser ainda mais intensa.
Mas qual é a ligação entre o doomscrolling e a adoração a celebridades? Ambos parecem ser formas de escapismo, onde as pessoas buscam um alívio rápido para suas frustrações e ansiedades. No entanto, de acordo com o estudo, em vez de oferecer alívio, esses comportamentos acabam intensificando os problemas emocionais.
Como a Pesquisa Revelou Essa Conexão Entre Doomscrolling e Adoração a Celebridades
Os pesquisadores recrutaram universitários dos Estados Unidos e do Irã, totalizando 812 participantes. Eles utilizaram questionários para medir o envolvimento dos estudantes em doomscrolling e adoração a celebridades, além de avaliar a saúde mental de cada um. Nos Estados Unidos, a maioria dos participantes era composta por mulheres; já no Irã, predominavam homens. Essa diversidade cultural ofereceu um panorama interessante sobre como esses comportamentos se manifestam em contextos distintos.
Para medir o doomscrolling, os pesquisadores utilizaram a Escala de Doomscrolling em Redes Sociais. Esta escala inclui perguntas como: “Sinto a necessidade de ver cada vez mais conteúdo negativo nas redes sociais”. Por outro lado, os pesquisadores utilizaram avaliaram a adoração a celebridades por meio da Escala de Atitude de Celebridade. Esta, por sua vez, mede o grau de envolvimento das pessoas com a vida das figuras públicas. Esses instrumentos, juntos, forneceram uma visão clara de como o consumo compulsivo de mídia afeta as emoções e o bem-estar dos indivíduos.
Doomscrolling e Adoração a Celebridades: Efeitos na Saúde Mental
Os resultados foram reveladores: os participantes que praticavam doomscrolling também eram os mais propensos a apresentar níveis elevados de adoração a celebridades. Essa relação sugere uma base psicológica comum — ambos são formas de tentar lidar com o estresse e as frustrações da vida cotidiana, mas acabam intensificando esses mesmos sentimentos.
Do ponto de vista psicológico, o estudo mostrou que, no Irã, o doomscrolling estava associado a um aumento de sintomas depressivos e ansiedade em relação ao futuro. Nos Estados Unidos, essa prática também causava ansiedade futura e redução do bem-estar psicológico. Já a adoração a celebridades teve efeitos similares: no grupo iraniano, essa prática foi associada a níveis mais altos de depressão e ansiedade, enquanto no grupo americano, levou a uma diminuição do bem-estar geral.
Essas descobertas reforçam o poder do consumo de mídia em moldar nosso estado emocional. Assim, mostrando que a busca por distrações rápidas e conteúdos atraentes nas redes sociais pode, na verdade, prejudicar nossa estabilidade emocional.
Cultura e Variações no Impacto: Por Que os Efeitos Variam Entre os Países?
Um dos aspectos mais interessantes do estudo foi observar como as diferenças culturais influenciam esses comportamentos. Os participantes americanos, por exemplo, pontuaram mais alto em todos os critérios — doomscrolling, adoração a celebridades, depressão e ansiedade — em comparação com os iranianos. No entanto, eles também relataram níveis mais altos de bem-estar geral.
Essa diferença pode estar relacionada às normas culturais: enquanto culturas ocidentais como a americana tendem a valorizar uma maior expressividade emocional, o que pode amortecer parte dos efeitos negativos, culturas como a iraniana possuem normas mais rígidas em relação à expressão emocional, fazendo com que os impactos desses comportamentos se tornem mais intensos e aparentes.
Reflexões Finais e Limitações do Estudo
Como todo estudo, este também apresenta limitações. A amostra não foi balanceada em termos de gênero, com uma maioria feminina no grupo americano e masculina no grupo iraniano. Além disso, o estudo é transversal, o que significa que ele só pode identificar associações, mas não comprovar causalidades. Estudos futuros poderiam aprofundar essa análise por meio de acompanhamento longitudinal, acompanhando os participantes ao longo do tempo para entender melhor como esses comportamentos se desenvolvem e quais são seus efeitos de longo prazo.
Outra questão interessante para pesquisas futuras seria explorar o impacto de fatores culturais e demográficos adicionais, como background étnico e classe social. Pois incluir estas variáveis, certamente contribuirá para entender melhor a complexidade e os diferentes aspectos desses comportamentos.
O Que Esse Estudo Nos Ensina Sobre Nossa Relação com a Mídia?
O estudo revela como os comportamentos de consumo de mídia, como o doomscrolling e a adoração a celebridades, podem afetar a saúde mental e emocional das pessoas. Portanto, compreender esses vínculos é essencial para ajudar as pessoas a desenvolver hábitos mais saudáveis de interação com as redes sociais e evitar que o consumo digital afete negativamente seu bem-estar.
Para os leitores, é uma oportunidade de refletir sobre a própria relação com o conteúdo online. Você sente que esses comportamentos estão presentes na sua vida? Além disso, já pensou em alternativas para consumir mídias de forma que ajudem a melhorar, e não a piorar, seu bem-estar emocional?