Um estudo recente publicado no Journal of Affective Disorders aponta que adultos mais velhos que consomem maiores quantidades de spermidina na dieta apresentam desempenho significativamente superior em testes de cognição. O efeito protetor se mostrou ainda mais evidente em homens, pessoas com sobrepeso moderado, indivíduos com hipertensão ou colesterol elevado, e em não-hispânicos brancos. Os resultados reforçam o potencial da alimentação rica em poliaminas como estratégia para promover a saúde cerebral durante o envelhecimento.
A spermidina é uma poliamina natural presente em todas as células vivas. Ela participa de processos vitais de crescimento celular, manutenção e remoção de componentes danificados — uma reciclagem celular chamada autofagia. Esse mecanismo é essencial para a saúde das células e, segundo pesquisas experimentais, está ligado a efeitos anti-envelhecimento e protetores do coração. No entanto, os níveis de spermidina caem com o avanço da idade, o que pode contribuir para o declínio celular relacionado ao envelhecimento.
Diversos alimentos são fontes naturais de spermidina, como queijos maturados, produtos de soja (especialmente natto), cogumelos, grãos integrais, leguminosas, ervilhas e algumas frutas, como grapefruit. Germes de trigo e alimentos fermentados também concentram boas quantidades. Além disso, a spermidina está disponível em suplementos alimentares, embora as evidências clínicas sobre benefícios em humanos ainda sejam limitadas.
Detalhes do Estudo: Como o Consumo Foi Avaliado
A equipe liderada por Yifan Ma utilizou dados do NHANES, levantamento nacional dos EUA conduzido pelo CDC, que combina entrevistas, exames físicos e avaliações dietéticas para mapear a saúde da população. Para a análise, os pesquisadores incluíram adultos com 60 anos ou mais que participaram das rodadas de 2011 a 2014 e realizaram testes padronizados de cognição.
O estudo envolveu 2.674 participantes, com consumo alimentar avaliado por dois recordatórios de 24 horas, complementados por informações sobre uso de suplementos. Com esses dados, os pesquisadores estimaram a ingestão individual de spermidina, comparando o desempenho cognitivo daqueles com maior e menor consumo do nutriente.
Quem Consome Mais Spermidina Pensa Melhor
Os resultados foram claros: os participantes no quartil superior de ingestão de spermidina (os 25% que mais consomem) tiveram melhor desempenho nos testes cognitivos em comparação aos demais. O efeito positivo foi especialmente expressivo entre homens, adultos com IMC entre 25 e 30 (sobrepeso leve), hipertensos, pessoas com hipercolesterolemia e não-hispânicos brancos.
Os autores destacam que esses achados sugerem a inclusão de alimentos ricos em spermidina como parte de estratégias dietéticas para proteger a cognição em idosos, principalmente naqueles que já possuem fatores de risco metabólicos ou doenças crônicas associadas ao envelhecimento.
Limitações e Implicações: O Que Ainda Falta Saber
Apesar do resultado promissor, o estudo é observacional, o que impede concluir que a spermidina protege diretamente o cérebro. Pode ser que pessoas com melhor cognição sejam mais capazes de manter dietas saudáveis e diversificadas, o que inclui maior consumo desse nutriente. Ensaios clínicos randomizados ainda são necessários para comprovar causalidade e definir doses ideais.
Mesmo assim, os dados fortalecem o interesse científico por compostos bioativos da dieta no contexto do envelhecimento saudável. O potencial neuroprotetor da spermidina, associado à sua ação na autofagia celular e ao combate ao estresse oxidativo, faz dela um alvo estratégico para pesquisas em longevidade e saúde cerebral.