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Neuroimagem não Prevê Resposta à Terapia em Casos de Ansiedade Infantil, Mostra Estudo

Neuroimagem Não Prevê Resposta à Terapia em Casos de Ansiedade Infantil, Mostra Estudo
Neuroimagem Não Prevê Resposta à Terapia em Casos de Ansiedade Infantil, Mostra Estudo
Índice

Uma nova pesquisa sobre ansiedade infantil publicada no periódico Psychological Medicine reacende um debate incômodo: será que estamos superestimando a capacidade das neurociências em prever comportamentos humanos complexos? O estudo, conduzido por Andre Zugman e colegas do National Institute of Mental Health (NIMH), nos Estados Unidos, testou uma hipótese ambiciosa — e não encontrou evidências robustas para sustentá-la.

O objetivo era identificar se características anatômicas do cérebro ou padrões de conectividade funcional, captados por ressonância magnética funcional (fMRI), poderiam prever a resposta de crianças com transtornos de ansiedade à terapia cognitivo-comportamental (TCC). Os pesquisadores tinham expectativas altas em relação ao poder de previsão das neuroimagens. Pois se pudéssemos antecipar quem responderia bem à TCC, o tratamento poderia ser personalizado desde o início, poupando tempo e sofrimento. Mas a realidade dos dados foi mais sóbria.

Os pesquisadores analisaram duas amostras: uma principal, com 54 crianças e adolescentes diagnosticados com ansiedade, e outra secundária, com 15 participantes. Eles submeteram todos os envolvidos a protocolos estruturados de TCC e exames de fMRI. Avaliaram os sintomas utilizando a escala Pediatric Anxiety Rating Scale (PARS). Mesmo assim, não conseguiram prever quais crianças melhorariam com a terapia com base na espessura cortical ou nos padrões de conectividade entre áreas cerebrais.

O Valor Científico de um Resultado Nulo

Apesar de frustrante à primeira vista, o achado tem um valor científico considerável. O estudo utilizou métodos estatísticos sofisticados, como o Connectome Predictive Modeling (CPM). Uma técnica de aprendizado de máquina que busca padrões em grandes redes de conectividade cerebral. A ideia era ousada: identificar marcadores cerebrais que, no futuro, pudessem funcionar como “oráculos clínicos”. Mas esses oráculos, ao menos por enquanto, não se manifestaram.

Os resultados mostraram que mesmo com a participação de profissionais experientes, medidas padronizadas e amostras livres de medicação, os modelos não conseguiram prever a resposta terapêutica de maneira consistente. Em outras palavras, não há base científica atual para aplicar esse tipo de análise na clínica com crianças ansiosas. As poucas correlações identificadas foram consideradas fracas demais para ter utilidade prática.

Esse tipo de resultado desafia uma crença difusa no poder quase mágico das neuroimagens. A ideia de que bastaria “olhar o cérebro” para prever comportamento ainda é popular. No entanto, isso não encontra sustentação real quando colocada à prova com rigor científico.

A Complexidade Invisível da Ansiedade Infantil

Transtornos de ansiedade em crianças têm múltiplas camadas. Eles se expressam de forma diferente em cada idade. Além disso, envolvem fatores genéticos, emocionais e sociais, e frequentemente se camuflam atrás de sintomas físicos ou comportamentos de evitação. Esperar que a neuroimagem capte e preveja todas essas variáveis é, no mínimo, um projeto prematuro.

Além disso, a própria TCC, embora considerada tratamento de primeira linha, tem uma taxa de remissão completa inferior a 50% nessa população. Isso já indica que as causas e dinâmicas da ansiedade infantil estão longe de ser completamente compreendidas. Ademais, demonstra que a terapia pode não funcionar para todos, independentemente do que o cérebro “mostra” nos exames.

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A pesquisa também traz um alerta silencioso sobre o risco de “neuromania” — a tendência de supervalorizar qualquer estudo que envolva imagens do cérebro, mesmo que seus resultados sejam pouco aplicáveis na prática. A mente, ao que tudo indica, continua sendo mais do que a soma de suas conexões neurais.

O que ainda Precisamos Aprender

O fracasso em prever a resposta à TCC a partir das neuroimagens pode indicar que estamos perguntando demais a uma ferramenta que ainda é imatura para esse tipo de previsão. Ou talvez estejamos perguntando errado. A psiquiatria infantil, em especial, lida com cérebros em desenvolvimento, altamente plásticos e influenciados por contextos variáveis — família, escola, traumas, vínculos.

O que este estudo escancara é o abismo entre o entusiasmo tecnológico e a realidade clínica. Embora a neuroimagem continue sendo uma ferramenta valiosa para a ciência básica, seu uso como preditor individual de resposta terapêutica em crianças ainda não se justifica. É necessário repensar expectativas, investir em estudos com amostras maiores, e integrar dados cerebrais com informações emocionais, comportamentais e ambientais para obter uma visão mais realista.

A ciência não avançaria sem testes corajosos — mesmo quando eles produzem respostas negativas. Ao contrário do que se pensa, resultados nulos bem conduzidos podem ser os maiores alertas de humildade para uma área que, às vezes, corre rápido demais na direção de promessas que não consegue cumprir.

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