Os microplásticos na cadeia alimentar têm sido uma preocupação crescente para cientistas e ambientalistas. Recentemente, um estudo publicado na Science of the Total Environment por Annika Vaksmaa e sua equipe revelou a descoberta de um fungo capaz de degradar plásticos no Grande Depósito de Lixo do Pacífico.
O Problema dos Microplásticos na Cadeia Alimentar
Os microplásticos, pequenos fragmentos de plástico com menos de 5 mm de diâmetro, são onipresentes no ambiente marinho. Os microplásticos estão presentes em todas as camadas dos oceanos, desde a superfície até o fundo marinho. Uma variedade de organismos marinhos pode ingerir esses plásticos, que assim entram na cadeia alimentar. Essa contaminação é um problema sério, pois os microplásticos podem absorver e liberar substâncias tóxicas, afetando a saúde de organismos marinhos e potencialmente impactando a saúde humana através da ingestão de frutos do mar contaminados.
A Descoberta Revolucionária do Parengyodontium album
Durante uma expedição científica ao Giro Subtropical do Pacífico Norte, uma vasta corrente oceânica circular localizada entre a costa oeste da América do Norte e o leste da Ásia, os pesquisadores isolaram o fungo Parengyodontium album de amostras de fragmentos de plástico flutuantes. Esse giro, também conhecido como Grande Depósito de Lixo do Pacífico, é uma área onde as correntes oceânicas convergem e acumulam grandes quantidades de detritos, incluindo plásticos.
O polietileno (PE), um dos plásticos mais comuns e persistentes no ambiente marinho. Esse composto deriva do etileno, um gás que se produz principalmente a partir do petróleo e do gás natural. Alémd isso, o etileno é polimerizado para formar longas cadeias de moléculas de polietileno. Assim, essas cadeias são amplamente utilizadas na fabricação de produtos de consumo, como sacolas plásticas, garrafas de água e embalagens diversas.
Microplásticos na Cadeia Alimentar: O Papel do Parengyodontium album
Os pesquisadores descobriram que, quando o polietileno é tratado com luz UV, ele se torna mais suscetível à degradação biológica pelo P. album. A luz UV quebra mecanicamente as ligações do polietileno, criando superfícies mais acessíveis para a colonização microbiana. Este tratamento com UV facilita a ação do fungo, permitindo que ele utilize enzimas digestivas para quebrar ainda mais as ligações do plástico. Esse processo é conhecido como fotodegradação inicial.
Após a fotodegradação, ocorre a colonização microbiana, onde o P. album coloniza as superfícies do plástico tratado com UV. O fungo, então, inicia o processo de mineralização, no qual converte o carbono derivado do plástico em dióxido de carbono (CO2). Mineralizar PE em CO2 significa transformar o plástico em uma forma que pode ser assimilada pelos ciclos biogeoquímicos naturais. Isso é importante para o meio ambiente, pois remove o plástico persistente do ecossistema marinho, reduzindo sua presença nociva e possibilitando que o carbono seja reincorporado na natureza de uma forma menos prejudicial.
Impactos na Cadeia Alimentar
A presença de microplásticos na cadeia alimentar marinha é amplamente documentada. No entanto, a capacidade do P. album de degradar esses plásticos oferece uma nova esperança para mitigar os impactos negativos. Embora o fungo não possa resolver o problema por si só, ele representa uma ferramenta valiosa na bioremediação de ambientes marinhos contaminados. Após a ação do fungo, seriam necessários os seguintes passos para resolver os microplásticos:
- Desenvolvimento de Tecnologias Complementares: Implementar tecnologias avançadas para capturar e remover microplásticos da água de forma eficiente e segura, evitando danos à vida marinha.
- Redução na Produção e Uso de Plásticos: Estabelecer políticas e práticas globais que visem reduzir a produção e o uso de plásticos de uso único, incentivando alternativas sustentáveis e biodegradáveis.
- Reciclagem e Gestão de Resíduos: Devemos melhorar os sistemas de reciclagem e gestão de resíduos para garantir que reciclamos o plástico adequadamente e ele não acabe nos oceanos.
- Educação e Conscientização Pública: Aumentar a conscientização sobre os impactos dos microplásticos na saúde dos oceanos e na cadeia alimentar, promovendo mudanças de comportamento na sociedade.
- Pesquisa Contínua: Investir em pesquisas para descobrir outros microrganismos e métodos que possam complementar a ação do P. album na degradação de microplásticos.
- Monitoramento e Regulação: Implementar programas de monitoramento contínuo para avaliar a eficácia das medidas adotadas e ajustar as estratégias conforme necessário, além de criar regulamentações mais rigorosas sobre o descarte de plásticos.
Limitações e Desafios Futuros
Apesar dos resultados promissores, existem limitações significativas. A taxa de degradação do P. album é relativamente baixa, com apenas 0,05% do plástico tratado com UV sendo degradado a cada nove dias. Além disso, implementar soluções baseadas em fungos em grande escala é um desafio logístico significativo, exigindo mais pesquisas e desenvolvimento para tornar essas abordagens viáveis e eficazes em um contexto global.
Os microplásticos na cadeia alimentar representam um desafio significativo para a saúde dos ecossistemas marinhos e humanos. A descoberta do fungo Parengyodontium album como um degradador eficaz de plásticos oferece uma nova esperança, mas é apenas uma peça do quebra-cabeça. Para enfrentar esse problema de maneira abrangente, é essencial combinar essa abordagem biotecnológica com políticas de redução de plástico e aumentar a conscientização pública. Pois somente através de uma estratégia integrada será possível mitigar os impactos negativos dos microplásticos no meio ambiente.