Por muito tempo, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foi visto como uma condição infantil, algo que se resolvia com o tempo, assim negligenciando os muitos casos de mães com TDAH. Pois, estudos mostram que o transtorno persiste na maioria dos casos até a idade adulta, trazendo desafios significativos em várias áreas da vida. No contexto familiar, o TDAH materno pode gerar implicações sérias para a relação entre mães e filhos, principalmente quando ambos apresentam o transtorno.
A transmissão hereditária do TDAH é um fator crítico. Estudos sugerem que a hereditariedade desse transtorno pode ultrapassar 80%, assim tornando comum que mães com TDAH tenham filhos diagnosticados com a condição. Isso gera um ciclo de interações negativas entre pais e filhos, contribuindo para padrões problemáticos de criação e desenvolvimento infantil. As dificuldades envolvem desde falhas no monitoramento dos filhos até padrões de disciplina inconsistentes.
Ainda assim, a ciência avança lentamente nesse campo. A maior parte das pesquisas se concentrou nos impactos sociais do TDAH infantil, enquanto a influência do transtorno nos pais tem sido negligenciada. Compreender como o TDAH afeta a parentalidade é essencial para desenvolver abordagens mais eficazes de suporte para essas famílias.
Mães com TDAH Promovem Desafios Adicionais aos Filhos
Mães com TDAH enfrentam desafios expressivos na criação dos filhos. A impulsividade pode levar a reações emocionais exacerbadas, e a dificuldade de atenção resulta em falhas na supervisão infantil. Estudos mostram que essas mães tendem a ser menos consistentes na aplicação de regras e consequências, comprometendo a previsibilidade necessária para o desenvolvimento infantil.
A interação entre mães com TDAH e seus filhos frequentemente se caracteriza por comandos excessivos, dificuldades na aplicação de punição adequada e menor envolvimento positivo. A inconstância na disciplina e a aplicação de consequências inadequadas contribuem para comportamentos desafiadores nos filhos, intensificando os conflitos familiares.
O que é Envolvimento Positivo?
Envolvimento positivo é a participação ativa e afetiva dos pais na vida dos filhos, promovendo suporte emocional e encorajamento. Isso inclui demonstrar interesse genuíno pelas atividades da criança, elogiá-la por esforços e conquistas, participar de brincadeiras e estabelecer um vínculo baseado em confiança e diálogo. Exemplos práticos incluem ajudar na lição de casa, ouvir atentamente seus sentimentos e compartilhar momentos de lazer, criando um ambiente seguro e acolhedor para seu desenvolvimento.
Mães com TDAH podem enfrentar desafios significativos ao tentar manter um envolvimento positivo e consistente com seus filhos. Ao ajudar na lição de casa, por exemplo, elas podem se sentir impacientes, perder o foco rapidamente ou esquecer de reforçar a importância da rotina de estudos, o que pode gerar frustração tanto para elas quanto para a criança. Ao tentar ouvir atentamente os sentimentos dos filhos, podem acabar interrompendo, desviando a atenção para outros pensamentos ou tendo dificuldades em processar e responder de forma estruturada. Já nos momentos de lazer, podem ser extremamente animadas e engajadas. Assim criando experiências divertidas e criativas, mas ao mesmo tempo podem se distrair facilmente ou perder o interesse repentinamente, tornando difícil manter a constância dessas interações.
O Paradoxo da “Conexão Espelhada”
Curiosamente, alguns pesquisadores argumentam que mães com TDAH podem, em alguns casos, se conectar melhor com seus filhos que também apresentam a condição. Esse fenômeno, conhecido como “similaridade-fit”, sugere que pais e filhos que compartilham traços similares podem se entender melhor em certos aspectos. No entanto, essa “vantagem” não anula os desafios diários enfrentados por essas famílias.
Mães com TDAH podem ser mais brincalhonas e energéticas, proporcionando um ambiente mais leve e divertido para seus filhos. Entretanto, a falta de estrutura e previsibilidade pode ser um problema grave. O excesso de espontaneidade, aliado à impulsividade, pode comprometer a implementação de rotinas sólidas, essenciais para o desenvolvimento infantil.
A questão central aqui é que, apesar da possível conexão empática, os desafios estruturais e disciplinares podem superar qualquer potencial “vantagem” que essa semelhança traga. Crianças com TDAH necessitam de regras claras e consistência parental, algo que mães com sintomas intensos podem ter dificuldade em oferecer.
Estudo Sobre Mães com TDAH
Para entender melhor essa relação entre TDAH materno e parentalidade, pesquisadores da Universidade de Maryland adotaram uma abordagem multi-método. Foram analisadas 70 diádicas mãe-filho, utilizando entrevistas, autoavaliações e observações diretas da interação parental.
Os pesquisadores aplicaram questionários padronizados para medir os sintomas de TDAH nas mães e observaram suas interações estruturadas com os filhos. Em seguida, compararam esses dados com relatos de professores e familiares sobre o comportamento da criança e da mãe.
Os resultados revelaram que mães com TDAH apresentavam maior inconsciência na disciplina, menos envolvimento positivo e tendiam a punir de forma desproporcional. Além disso, o número de comandos emitidos sem tempo adequado para a resposta da criança foi significativamente maior entre mães com altos níveis de sintomas. Por exemplo, uma mãe com TDAH pode pedir ao filho para guardar os brinquedos e, antes que ele tenha tempo de reagir, já dar outra ordem, como ir escovar os dentes, criando confusão e dificultando a obediência da criança.
Consequências e Implicações Clínicas
Este estudo revela implicações profundas para a intervenção clínica e para as políticas de apoio às famílias afetadas pelo TDAH. Os profissionais de saúde devem considerar o TDAH materno nos tratamentos oferecidos a crianças diagnosticadas, pois ignorar esse fator pode comprometer a eficácia das intervenções.
O tratamento combinado, que oferece suporte tanto para mães quanto para crianças, pode melhorar o prognóstico familiar. Os treinamentos parentais precisam se adaptar às dificuldades específicas das mães com TDAH, aplicando técnicas que aprimorem sua organização, regulação emocional e consistência na disciplina.
Além disso, é fundamental ampliar a conscientização sobre o impacto do TDAH na parentalidade. Os profissionais de saúde devem incluir a avaliação materna no diagnóstico infantil e as políticas de apoio à família precisam incorporar intervenções mais abrangentes para esse grupo.