O impacto das mudanças climáticas está se tornando uma preocupação crescente para economias em todo o mundo. De acordo com o artigo da Nature, “The economic commitment of climate change”, as projeções globais de danos econômicos devido às mudanças climáticas são alarmantes e destacam a necessidade urgente de ações de mitigação e adaptação.
Estimativa de Redução de 19% na Renda Global
O estudo que analisou dados de mais de 1.600 regiões de 83 países ao redor do mundo entre 1960 e 2019. Dos 83 países incluídos, 42 estão localizados no hemisfério sul e 41 no hemisfério norte. As sub-regiões correspondem à primeira divisão administrativa abaixo do nível nacional, como estados nos EUA ou províncias na China.
Os dados econômicos regionais foram obtidos do banco de dados DOSE, que fornece medidas de produto regional bruto per capita (GRPpc) ou renda per capita em moedas locais conforme reportado por agências estatísticas nacionais, anuários e, em alguns casos, literatura acadêmica. Para padronizar os dados econômicos, os valores foram convertidos de moedas locais para dólares americanos, ajustando para as tendências inflacionárias divergentes entre países. Após a conversão, os valores foram corrigidos pela inflação dos EUA, utilizando um deflator dos EUA.
O estudo prevê uma redução de 19% na renda global. Isso implica uma perda econômica anual projetada em cerca de 38 trilhões de dólares internacionais até 2049. Isso significa que, a cada ano até 2049, a economia global pode sofrer uma perda de 38 trilhões de dólares, ajustados para refletir o valor do dólar em 2005. Esta estimativa considera uma faixa provável de perda entre 19 e 59 trilhões de dólares de 2005. Dessa forma, refletindo as incertezas físicas e empíricas envolvidas nas projeções. Em outras palavras, dependendo das variações climáticas e econômicas, a perda anual pode variar dentro dessa faixa de valores.
Como a Mudança na Temperatura Afeta Diferentes Regiões
As mudanças de temperatura têm impactos significativos e diferenciados nas economias ao redor do mundo. Um dos principais achados do estudo é que as regiões de baixa latitude, sofrem as maiores perdas econômicas devido às mudanças de temperatura. Essas áreas já experimentam temperaturas elevadas por estarem mais próximas do Equador. Assim, com o aumento adicional das temperaturas médias, enfrentam desafios ainda maiores na agricultura, saúde e produtividade laboral.
Impacto das Mudanças Climáticas em Regiões de Baixa Latitude
Nas regiões de baixa latitude, o aumento das temperaturas médias resulta em condições climáticas que superam os limites toleráveis para muitas culturas agrícolas. Alguns exemplos dos tipos de cultivo afetados são milho, soja, feijão, arroz e trigo. Isso leva a uma diminuição na produtividade agrícola. Com isso, teremos um cenário crescente de fragilidade na segurança alimentar. Esse termoe se refere à disponibilidade de alimentos suficientes e acessíveis para toda a população. Além disso, as altas temperaturas aumentam a incidência de doenças tropicais, como dengue, malária e zika, pressionando os sistemas de saúde já fragilizados.
A produtividade laboral também é severamente impactada em climas quentes. Trabalhos que exigem esforço físico ao ar livre se tornam insuportáveis e perigosos, reduzindo a eficiência e aumentando os riscos à saúde dos trabalhadores. Como resultado, as economias dessas regiões experimentam uma diminuição significativa no crescimento econômico.
Impacto das Mudanças Climáticas em Regiões de Alta Latitude
Em contraste, as regiões de alta latitude, como o norte da Europa e partes do Canadá e da Rússia, podem experimentar alguns benefícios econômicos temporários com o aumento das temperaturas. O aquecimento pode prolongar as estações de cultivo e tornar algumas áreas mais habitáveis e produtivas. No entanto, esses benefícios são muitas vezes compensados por outros impactos negativos das mudanças climáticas, como a perda de biodiversidade e a destabilização de ecossistemas. Espécies como o urso polar, a raposa ártica e várias espécies de peixes e aves migratórias estão em risco de extinção devido às mudanças em seus habitats naturais.
A destabilização de ecossistemas refere-se à interrupção das interações naturais entre as espécies e seus ambientes. Isso pode resultar em desequilíbrios, como a proliferação de espécies invasoras, a perda de serviços ecossistêmicos essenciais (como polinização e controle de pragas) e a degradação de habitats naturais, o que compromete a capacidade dos ecossistemas de sustentar a vida e manter sua funcionalidade.
Impactos Econômicos Associados à Variabilidade Climática
Além das mudanças na temperatura média, a variabilidade diária da temperatura e os eventos de precipitação extrema têm efeitos profundos na economia global. A variabilidade climática inclui mudanças bruscas e frequentes na temperatura e precipitação em pequeno espaço de tempo (dias, semanas), afetando a produtividade econômica de várias maneiras.
Variabilidade da Temperatura
A variabilidade diária da temperatura pode causar estresse térmico em plantas e animais, afetando negativamente a produtividade agrícola. Por exemplo, plantas como o trigo e o milho podem sofrer danos irreversíveis quando expostas a altas temperaturas durante a fase crítica de crescimento, resultando em rendimentos significativamente menores. Animais de criação, como gado bovino, podem enfrentar dificuldades em manter sua temperatura corporal, o que leva a uma redução na produção de leite e na taxa de crescimento. Além disso, em casos extremos pode levar os animais a óbito.
Culturas são especialmente sensíveis a flutuações de temperatura, que podem interromper ciclos de crescimento e reduzir rendimentos. Além disso, variações extremas de temperatura impactam a saúde humana, aumentando a mortalidade e reduzindo a capacidade de trabalho, o que diminui a produtividade econômica. Por exemplo, ondas de calor podem exacerbar condições como desidratação, insolação e doenças cardiovasculares. O calor extremo também pode agravar problemas respiratórios, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
Variabilidade da Precipitação
A precipitação extrema, que inclui chuvas torrenciais e períodos prolongados de seca, causa danos significativos às infraestruturas e afeta negativamente a agricultura. Inundações podem destruir colheitas, danificar propriedades e interromper o comércio, enquanto secas severas reduzem a disponibilidade de água para irrigação, essencial para a agricultura sustentável. As regiões que experimentam grandes variações climáticas frequentemente enfrentam uma maior incerteza econômica. A necessidade de adaptação a condições climáticas imprevisíveis requer investimentos significativos em infraestruturas resilientes e sistemas de gerenciamento de riscos, o que pode ser um fardo econômico considerável, especialmente para países em desenvolvimento.
O Custo da Inação: Por que Mitigar é Mais Barato que Lidar com os Danos
As mudanças climáticas estão impondo um custo crescente à economia global. Os danos econômicos projetados devido às mudanças climáticas já superam em muito os custos de mitigação necessários para limitar o aquecimento global a 2°C. A redução de 19% na renda global projetada até 2049 representa uma perda econômica anual estimada em cerca de 38 trilhões de dólares internacionais de 2005. Em comparação, os custos de mitigação das emissões, como a transição para energias renováveis e a implementação de políticas de eficiência energética, são consideravelmente menores. Ao agir agora, podemos evitar os danos devastadores que ameaçam a estabilidade econômica e a qualidade de vida global. A inação não é apenas uma escolha mais cara, mas também mais perigosa para o futuro da humanidade.
Os danos causados pelas mudanças climáticas incluem a destruição de infraestrutura devido a eventos climáticos extremos, a perda de produtividade agrícola, o aumento dos custos de saúde devido à maior incidência de doenças e o deslocamento de populações por desastres naturais. Esses impactos econômicos, quando acumulados, são imensuravelmente maiores do que os investimentos necessários para mitigar as mudanças climáticas. A implementação de energias renováveis, a melhoria da eficiência energética e a adoção de práticas sustentáveis são investimentos que, a longo prazo, não apenas economizam recursos financeiros, mas também salvam vidas e mantêm a estabilidade social.
Impacto de Mudanças Climáticas nas Futuras Gerações
Além disso, a inação compromete a segurança e a prosperidade das futuras gerações. Sem ações imediatas, as emissões de gases de efeito estufa continuarão a aumentar, exacerbando os impactos climáticos e tornando mais difícil e caro lidar com os danos no futuro. Portanto, é fundamental reconhecer que o custo da inação é significativamente maior e mais devastador do que o custo da mitigação, tanto em termos econômicos quanto humanos. Ao escolher agir agora, estamos investindo em um futuro mais seguro, saudável e próspero para todos.
Injustiça Climática: Quem Paga o Preço das Emissões Históricas?
A distribuição do impacto das mudanças climáticas não é uniforme; é profundamente injusta. Regiões que historicamente contribuíram mais para as emissões de gases de efeito estufa, como os Estados Unidos, países da Europa Ocidental e a China, são menos afetadas em comparação com regiões que poluíram menos, como grande parte da África Subsaariana, América Latina e Sudeste Asiático. Países em desenvolvimento, especialmente aqueles em baixas latitudes (tropicais e subtropicais), enfrentam perdas significativas em produtividade agrícola, saúde pública e infraestrutura devido às mudanças climáticas. Esses países, muitas vezes com menor capacidade de adaptação, veem suas economias já fragilizadas ainda mais pressionadas. Esta injustiça associada ao impacto das mudanças climáticas ressalta a necessidade de políticas globais que levem em conta a responsabilidade histórica e ofereçam suporte substancial às nações mais vulneráveis, garantindo que os esforços de mitigação e adaptação sejam equitativos e eficazes.