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Covid-19 Está Envelhecendo o Cérebro dos Jovens? Nova Pesquisa Sugere Que Sim

Covid-19 Está Envelhecendo o Cérebro dos Jovens? Nova Pesquisa Sugere Que Sim
Covid-19 Está Envelhecendo o Cérebro dos Jovens? Nova Pesquisa Sugere Que Sim
Índice

O impacto cognitivo da COVID-19 pode ter sido mais profundo do que imaginávamos nos cérebros dos jovens adultos. Uma nova pesquisa publicada na Brain, Behavior, and Immunity revela que estudantes universitários que tiveram a infecção apresentam padrões cerebrais semelhantes aos de pessoas mais velhas durante tarefas cognitivas. Apesar de esses jovens ainda terem bom desempenho nos testes, suas atividades cerebrais sugerem possíveis mudanças no funcionamento neural. O achado levanta questões alarmantes: será que estamos diante de um impacto neurológico silencioso, mas significativo, que pode afetar gerações inteiras?

O Enigma da “Névoa Mental” e o Impacto Cognitivo da Covid-19

A preocupação com os efeitos cognitivos da COVID-19 não é nova. Desde o início da pandemia, cientistas vêm alertando para os sintomas conhecidos como “brain fog” – dificuldade de concentração, lapsos de memória e fadiga mental. Muitos se recuperam fisicamente da infecção, mas continuam a sentir impactos sutis e persistentes na cognição. Essa condição não é apenas incômoda, mas potencialmente prejudicial para jovens que estão em fase de formação acadêmica e profissional, um momento crítico para o desenvolvimento de habilidades cognitivas de longo prazo.

A novidade da pesquisa conduzida na Universidade de Otago, na Nova Zelândia, está na detecção de padrões cerebrais alterados mesmo entre aqueles que não relatam dificuldades cognitivas evidentes. Ou seja, mesmo que o desempenho em testes de memória e atenção pareça normal, o cérebro desses jovens trabalha de maneira diferente, sugerindo que a infecção pode ter deixado um legado neurológico invisível a testes convencionais.

Esse achado reforça a necessidade de olharmos além dos sintomas óbvios da COVID-19 e investigarmos como a doença pode afetar o cérebro a longo prazo. Se essas mudanças persistirem por anos ou décadas, quais serão as consequências para a saúde mental e a produtividade dessas gerações?

O Estudo: Como os Cientistas Detectaram Mudanças no Cérebro

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores recrutaram 94 estudantes universitários e os dividiram em dois grupos. Um grupo dos que haviam sido infectados pela COVID-19 e outro com aqueles que nunca testaram positivo. Então, todos realizaram uma bateria de testes neuropsicológicos, que avaliou memória de trabalho, atenção, controle de impulsos e velocidade de reação. Além disso, os participantes responderam questionários sobre seu estado emocional e eventuais sintomas de “brain fog”.

O diferencial do estudo foi o uso da espectroscopia no infravermelho próximo (Near-Infrared Spectroscopy – NIRS), uma técnica que monitora mudanças na oxigenação sanguínea do cérebro. Os pesquisadores posicionaram o equipamento na testa dos participantes para medir a atividade do córtex pré-frontal, uma região crucial para o pensamento racional, a tomada de decisões e o planejamento.

Os resultados intrigaram os pesquisadores: embora o desempenho nos testes fosse semelhante entre os grupos, aqueles que haviam tido COVID-19 mostraram padrões atípicos de oxigenação cerebral. Normalmente, a realização de tarefas cognitivas reduz os níveis de hemoglobina oxigenada, algo que os pesquisadores observaram no grupo controle. No entanto, entre os jovens infectados anteriormente, essa queda foi muito menos acentuada, assim indicando uma atividade cerebral diferente – algo mais comumente visto em adultos mais velhos.

Jovens Com Cérebro de Idosos? O Impacto Cognitivo da COVID-19

O fato de jovens adultos apresentarem padrões cerebrais semelhantes aos de indivíduos mais velhos levanta questões preocupantes. Em adultos mais velhos, o cérebro pode recrutar mais recursos para manter o mesmo nível de desempenho, utilizando variações na atividade neural como um mecanismo compensatório. Mas por que isso estaria acontecendo com jovens saudáveis, supostamente em seu auge cognitivo?

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Uma possível explicação é que a COVID-19 pode ter acelerado um processo natural de desgaste cerebral, então forçando o cérebro a trabalhar de maneira diferente para compensar danos sutis. Se essa hipótese estiver correta, isso significaria que os jovens que tiveram COVID-19 podem enfrentar declínios cognitivos mais cedo do que o esperado. Ainda não se sabe se essas alterações são reversíveis ou se persistirão ao longo da vida.

Além disso, os efeitos foram mais intensos entre aqueles que relataram sintomas de “brain fog”. Isso indica que, embora muitos jovens possam não notar mudanças no dia a dia, aqueles que sentem dificuldades cognitivas têm uma maior probabilidade de exibir padrões cerebrais alterados. Isso pode significar que a infecção teve um impacto mais profundo do que imaginamos, mesmo naqueles que tiveram quadros leves.

As Limitações do Estudo e a Necessidade de Mais Pesquisas

Como qualquer estudo científico, esta pesquisa tem suas limitações. O grupo de participantes era composto predominantemente por mulheres estudantes de psicologia, o que pode limitar a generalização dos resultados para outras populações. Além disso, o grupo controle pode ter incluído indivíduos que tiveram infecções assintomáticas e, portanto, os efeitos da COVID-19 podem estar ainda mais disseminados do que os dados sugerem.

Os próprios pesquisadores reconhecem a necessidade de replicar esses achados em amostras maiores e mais diversas. Novos estudos devem investigar se essas alterações cerebrais persistem ao longo dos anos ou se tendem a desaparecer com o tempo. Além disso, há o desafio de entender quais fatores tornam algumas pessoas mais vulneráveis a essas mudanças do que outras.

A Ciência Está Subestimando o Impacto Cognitivo da COVID-19?

Os resultados deste estudo apontam para um problema maior: até que ponto estamos subestimando os impactos neurológicos da COVID-19? Se mesmo jovens saudáveis apresentam mudanças na atividade cerebral, o que isso pode significar para adultos mais velhos ou para aqueles que tiveram infecções mais graves?

Até o momento, grande parte da atenção da comunidade científica e médica tem sido voltada para os efeitos respiratórios e cardiovasculares da doença. No entanto, os impactos neurológicos podem ser igualmente preocupantes, especialmente considerando a possibilidade de prejuízos cognitivos sutis que só se tornam evidentes anos depois.

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Se confirmados, esses achados poderiam mudar a forma como encaramos as sequelas da COVID-19, impulsionando políticas públicas para monitoramento e reabilitação neurológica. Além disso, reforçam a necessidade de continuar investindo em medidas de prevenção e em pesquisas para entender melhor os efeitos a longo prazo da infecção.

Referência

McNeill, R., Marshall, R., Fernando, S. A., Harrison, O., & Machado, L. (2024). COVID-19 may Enduringly Impact Cognitive Performance and Brain Haemodynamics in Undergraduate Students. Brain, Behavior, and Immunity. Link para o estudo.

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