Imagine só: em poucos minutos, você responde perguntas sobre memória, cálculo e linguagem – e quem avalia sua performance não é um médico ou psicólogo, mas o ChatGPT. Parece ficção científica? Pois um estudo publicado agora em 2024 na Revista Digital Health mostrou que essa realidade está muito mais próxima do que você imagina.
Avaliação Cognitiva: Da Clínica para o Chat
Até ontem, avaliar funções cognitivas era coisa de consultório — testes como o famoso MoCA ou Mini-Mental, aplicados presencialmente por especialistas. Mas será que a inteligência artificial pode, de fato, assumir esse papel com rigor e confiabilidade? Foi essa provocação que motivou pesquisadores chineses a comparar a avaliação cognitiva tradicional com os resultados fornecidos pelo ChatGPT, tanto na versão 3.5 quanto na avançada GPT-4.
A Ciência Por Trás da Avaliação Cognitiva com ChatGPT
No estudo, 60 pessoas cognitivamente saudáveis e 30 pacientes pós-AVC foram submetidos a uma bateria de testes clássicos:
- Memória (recontar uma história),
- Cálculo (subtrair 7 sucessivamente a partir de 100),
- Linguagem (repetir frases e nomear animais rapidamente),
- Abstração (explicar em que dois objetos se parecem).
Médicos especialistas e as versões 3.5 e 4 do ChatGPT analisaram as respostas lado a lado, seguindo critérios rígidos de pontuação. Não ficou só nisso: os próprios pesquisadores refinaram os prompts e protocolos, buscando minimizar qualquer “gambiarra” típica dos modelos de IA.
Os Resultados: IA Já Rivaliza Com Médicos (Mas Nem Sempre)
Aqui está o ponto polêmico: o ChatGPT-4 atingiu um desempenho praticamente idêntico ao dos médicos na maior parte das tarefas, especialmente em memória e cálculo. A versão 3.5, por outro lado, ainda mostrou deslizes em testes de linguagem e memória. Nos pacientes com sequelas de AVC, o ChatGPT também se saiu bem – as discrepâncias se limitaram à linguagem.
E mais: ao melhorar os protocolos de interação e os critérios de correção, os pesquisadores reduziram drasticamente as diferenças. Isso mostra que, com boas instruções, conseguimos treinar a IA para avaliar de forma cada vez mais próxima dos humanos.
Por Que Isso é Um Divisor de Águas?
Estamos diante de uma revolução silenciosa:
- Avaliações cognitivas podem ser feitas remotamente, com feedback instantâneo e escalável.
- Testes podem ser otimizados, integrados a grandes bancos de dados e customizados conforme o perfil do usuário.
- O acesso à triagem e monitoramento cognitivo pode ser democratizado, inclusive em populações distantes de grandes centros.
Claro, ainda encontramos limites: os pesquisadores recrutaram apenas participantes chineses, trabalharam com uma amostra reduzida e ainda precisam aperfeiçoar os prompts. Mas o salto é inegável: o ChatGPT-4 já pode atuar como co-piloto digital na avaliação cognitiva, oferecendo praticidade, escala e precisão.
Você Confiaria Sua Avaliação Cognitiva a um Chatbot?
A fronteira entre medicina, psicologia e inteligência artificial está mais tênue do que nunca. Mas em vez de temer o futuro, por que não explorar o potencial de ferramentas como o ChatGPT para apoiar diagnósticos, acompanhar evolução cognitiva e, quem sabe, personalizar intervenções?
Se o ChatGPT já é capaz de “pensar” como um especialista, talvez o maior desafio seja nosso preconceito — e não a tecnologia.