Laura Elin Pigott, London South Bank University
Aquela sensação satisfatĂłria apĂłs consumir compulsivamente vĂdeos intermináveis no TikTok ou fazer compras online impulsivamente imita o alĂvio de coçar uma coceira. Isso Ă© a dopamina em ação – um neurotransmissor cerebral responsável pelas sensações de recompensa e realização. Seja ao se entregar a vĂdeos virais ou ao se envolver em novos hobbies, a dopamina cria uma sensação de conquista que nos faz voltar por mais.
Entretanto, a dependĂŞncia dessas doses de dopamina pode levar a alterações cerebrais duradouras, particularmente em adolescentes e jovens adultos. Isso Ă© o que minha equipe e eu na London South Bank University estudamos. Investigamos quais regiões e conexões cerebrais mudam devido ao aumento do engajamento nas redes sociais – ou “dopa-mineração”, como a chamamos.
O uso de redes sociais ativa as mesmas partes do cĂ©rebro que outros vĂcios, como drogas, álcool e jogos de azar. Cientistas descobriram que cada notificação, “like” ou mesmo vĂdeo assistido ativa o sistema de recompensa do cĂ©rebro (o nĂşcleo accumbens). Este Ă© o mesmo sistema que proporciona prazer ao ganhar dinheiro ou comer um alimento favorito.
Mas aqui está o problema: quanto mais vocĂŞ usa redes sociais, mais difĂcil fica para seu cĂ©rebro resistir. É como treiná-lo para desejar essas doses de dopamina – exatamente como um vĂcio.
Já se perguntou por que as redes sociais parecem tĂŁo viciantes? Seu cĂ©rebro começa a podar neurĂ´nios (como cortar galhos extras de uma árvore) para acelerar a “via de recompensa”.
Isso parece eficiente, mas nĂŁo Ă© benĂ©fico. O caminho mais curto permite que seu cĂ©rebro “sinta” recompensas mais rápido, mas pesquisas mostram que isso tambĂ©m aumenta a impulsividade e reduz a capacidade de parar de rolar a tela. Com o tempo, essa poda pode reduzir áreas-chave como a amĂgdala e o nĂşcleo accumbens, cruciais para controle emocional e tomada de decisões.
As Redes Sociais Podem Prejudicar sua SaĂşde Mental?
Notou mais ansiedade ou tristeza após horas no Instagram ou Snapchat? Você não está só. Estudos indicam que usuários intensos de redes sociais têm maior propensão a estresse, ansiedade e até depressão. Por quê? Apps como o Instagram incentivam a busca por validação alheia. A falta de likes ou comentários esperados pode abalar a autoestima.
Por outro lado, quem usa menos redes sociais relata maior confiança e menor preocupação com opiniões alheias.
Quantas vezes vocĂŞ prometeu “sĂł mais cinco minutos” de rolagem na cama, para descobrir que perdeu uma hora?
Redes sociais sĂŁo projetadas para prender sua atenção, assim como jogos de azar. Cada notificação, like ou comentário libera dopamina, dificultando a interrupção. Cientistas chamam isso de “desconto de demora” – optar por recompensas imediatas (rolagem) em vez de prioridades como estudo, sono ou interações reais.
Entender os efeitos cerebrais das redes sociais Ă© sĂł o inĂcio. O prĂłximo passo da pesquisa Ă© investigar como elas afetam a “rede neural em modo padrĂŁo” (DMN) – sistema ativo durante repouso mental, como devaneios ou reflexões.

Usando EEG (eletroencefalografia), minha equipe analisa se o uso intenso de redes sociais interfere nessa rede. Por que isso importa? A DMN influencia autopercepção, tomada de decisões e regulação emocional. Sua interrupção poderia explicar dificuldades de atenção, controle emocional e hábitos mentais saudáveis em usuários frequentes.
A boa notĂcia: nĂŁo Ă© preciso abandonar as redes sociais. Mas compreender seus efeitos cerebrais Ă© o primeiro passo para retomar o controle.
Laura Elin Pigott, Professora SĂŞnior em NeurociĂŞncias e Neurorreabilitação, LĂder de Curso na Faculdade de CiĂŞncias da SaĂşde e da Vida, London South Bank University
Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original (em inglês).