A relação entre acroleína e déficit cognitivo tornou-se um foco importante de estudos sobre saúde humana devido à sua presença em alimentos processados, poluição do ar e até mesmo nos processos metabólicos do próprio corpo. Segundo Mona Khoramjouy e colegas, a acroleína é um subproduto comum da oxidação de gorduras. Além disso, também se detecta esta substância em ambientes industriais, fumaça de cigarro, escapamentos de veículos e durante o preparo de alimentos fritos. No corpo, pode ser formada a partir do metabolismo de aminoácidos como metionina e poliaminas, substâncias ligadas à proliferação celular.

Além de seu odor característico e uso industrial como intermediário para produção de plásticos e herbicidas, a acroleína preocupa por seu potencial de induzir estresse oxidativo, alterar processos celulares e promover mutações genéticas. A pesquisa detalha que, em humanos, a exposição contínua pode acontecer tanto pela alimentação quanto por fatores ambientais e endógenos. Diversos estudos, inclusive este, associam a substância ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, pulmonares e cardiovasculares. Dessa forma, tornando-a um biomarcador relevante em investigações clínicas sobre Alzheimer, Parkinson e danos por acidentes vasculares cerebrais.
Metodologia Experimental e Esforço Amostral em Estudo Sobre a Relação Entre Acroleína e Déficit Cognitivo
No estudo realizado por Khoramjouy et al., foram utilizados cinquenta ratos machos da linhagem Sprague-Dawley, com 10 semanas de idade e peso entre 200 e 250g. Esses animais foram divididos aleatoriamente em cinco grupos, recebendo doses diárias orais de acroleína (0, 0.5, 1, 3 e 5 mg/kg) durante 90 dias consecutivos. Todos os procedimentos obedeceram rigorosamente aos protocolos éticos internacionais, com ambiente controlado de temperatura, iluminação e acesso à alimentação.
Os testes comportamentais aplicados foram amplos e integrados: atividade locomotora (campo aberto), coordenação motora (rotarod), força muscular (grip strength), memória de trabalho (Y-maze), memória de longo prazo (passive avoidance) e aprendizado espacial (radial arm water maze, RAWM). Cada metodologia foi selecionada para mensurar diferentes domínios cognitivos e motores, permitindo uma avaliação abrangente dos efeitos neurotóxicos da acroleína. Além disso, foram realizadas análises eletrofisiológicas (patch-clamp) em fatias do hipocampo para investigar alterações nas propriedades das células CA1 e na transmissão sináptica.
Para mensurar os níveis de acroleína nos fluidos biológicos, o estudo empregou cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC/MS). Assim, permitindo identificar com precisão a concentração tanto no plasma quanto no líquido cefalorraquidiano (LCR) dos animais. Essa abordagem técnica é fundamental para estabelecer relações entre a exposição química, os efeitos neurocomportamentais e os biomarcadores biológicos detectáveis.
Da Redução Motora ao Comprometimento Cognitivo
Os resultados revelaram efeitos marcantes, especialmente nas doses mais altas de acroleína. Houve redução significativa na atividade locomotora e no tempo de permanência em tarefas de equilíbrio, indicando prejuízos motores dose-dependentes. Em relação à força muscular, apenas as doses de 3 e 5 mg/kg/dia causaram perdas expressivas. Então, sugerindo que doses menores não são suficientes para induzir relaxamento muscular relevante.
No domínio cognitivo, as alterações foram ainda mais contundentes. Doses de 3 e 5 mg/kg/dia comprometeram a memória de trabalho no teste Y-maze, com queda significativa na alternância espontânea entre braços. No teste de memória de longo prazo (passive avoidance), a dose mais alta resultou em redução do tempo de latência para entrar no compartimento escuro, indicando déficit de retenção. Já no RAWM, as doses elevadas aumentaram os erros de referência, o tempo para encontrar a plataforma e diminuíram o tempo gasto no braço alvo. Assim, representando um padrão clássico de confusão e incapacidade de aprendizagem espacial.
No nível eletrofisiológico, o estudo mostrou que, embora a acroleína não tenha alterado significativamente propriedades básicas como resistência de membrana e excitabilidade global das células CA1, houve redução significativa na frequência das correntes pós-sinápticas excitatórias espontâneas (sEPSC). Em outras palavras, a acroleína diminuiu a liberação de glutamato, principal neurotransmissor excitatório associado à memória e ao aprendizado. Já as transmissões inibitórias (GABA) permaneceram inalteradas.
Os dados de GC/MS indicaram que, enquanto a acroleína não foi detectada no plasma, foi encontrada em concentrações crescentes no LCR conforme a dose administrada. Essa diferença pode estar ligada à maior capacidade de conjugação da acroleína com proteínas plasmáticas, tornando o LCR um marcador mais sensível para exposição cerebral.
Interpretações, Implicações e Polêmicas
O estudo destaca a acroleína como um fator de risco direto para prejuízos cognitivos, com efeitos proporcionais ao aumento da exposição crônica. O estudo é um dos primeiros a comprovar uma correlação direta entre a concentração de acroleína no LCR e o grau de comprometimento na memória.
Esses achados ampliam o debate sobre a toxicidade ambiental e alimentar, então colocando em cheque práticas cotidianas como o consumo frequente de alimentos fritos ou exposição a ambientes poluídos. O fato da acroleína ser um produto onipresente — resultado de poluição, cigarro, metabolismo e certos alimentos — levanta discussões éticas e de saúde pública sobre limites seguros e estratégias de mitigação.

Além disso, o estudo provoca questionamentos sobre a vulnerabilidade do cérebro humano a compostos ambientais pouco monitorados. Além disso, ressalta a necessidade de novas pesquisas voltadas à prevenção e identificação precoce dos riscos associados.
A identificação de acroleína no LCR, correlacionada à perda de desempenho cognitivo, abre caminho para novos métodos diagnósticos e políticas públicas de prevenção. Reduzir a exposição a fontes conhecidas de acroleína pode ser uma estratégia importante para preservar a saúde cerebral ao longo da vida, reforçando a importância de ambientes mais limpos e escolhas alimentares conscientes.