Uma análise de dados nacionais dos Estados Unidos, publicados no Journal of Affective Disorders, indica que pessoas que seguem a dieta cetogênica têm menor probabilidade de desenvolver depressão — e quanto maior a adesão ao padrão alimentar keto, menor a gravidade dos sintomas depressivos. O estudo utilizou informações do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), abrangendo quase 29 mil participantes entre 2005 e 2023.
A dieta cetogênica é um plano alimentar pobre em carboidratos e rico em gorduras. Assim, o objetivo é induzir o corpo à cetose, quando a principal fonte de energia passa a ser a queima de gordura. O cardápio típico inclui carnes, ovos, queijos, gorduras saudáveis e vegetais com baixo teor de carboidratos. No entanto, excluindo massas, pães, açúcar e a maior parte das frutas.
Desenvolvida originalmente para o tratamento da epilepsia, a dieta keto ganhou destaque como estratégia de emagrecimento e controle glicêmico. Muitos adeptos relatam redução do apetite e melhora na clareza mental. Embora efeitos colaterais como fadiga e desconfortos gastrointestinais sejam comuns nas primeiras semanas, fenômeno conhecido como “gripe keto”.
Dieta Cetogênica e Saúde Mental: Como o Estudo Foi Realizado e Principais Resultados
Os autores, liderados por Hao Ren, buscaram compreender se a adesão à dieta cetogênica influencia o risco de depressão. Pois, considerando que dietas ricas em frituras (frequentes em alguns padrões keto) estão associadas a maior risco depressivo devido à presença de acrilamida, substância formada durante frituras em alta temperatura.
Utilizando dados de entrevistas e exames físicos do NHANES, os pesquisadores avaliaram hábitos alimentares de quase 29 mil adultos. No qual incluía participantes com diagnósticos de depressão e sintomas mensurados pelo Patient Health Questionnaire-9. Para estimar a adesão à dieta cetogênica, cruzaram relatos de consumo alimentar de dois dias consecutivos com os critérios do padrão keto.
Os resultados mostraram que quanto mais próximo o padrão alimentar de um indivíduo estava da dieta cetogênica, menor o risco de depressão. Além disso, tal tendência se manteve mesmo após controle de variáveis como idade, sono, doenças crônicas e outros fatores de risco conhecidos. Curiosamente, o risco depressivo foi maior entre participantes que dormiam menos de seis horas ou mais de dez horas por dia, além de adultos com mais de 40 anos e portadores de condições como diabetes, AVC ou colesterol elevado.
Implicações, Limitações e Oportunidades para Novas Pesquisas Sobre a Relação Entre Dieta Cetogênica e Saúde Mental
Os autores destacam que, embora o estudo reforce a associação entre dieta cetogênica e menor risco de depressão, não é possível afirmar que a dieta protege contra o transtorno — pode ser que pessoas deprimidas tenham mais dificuldade em aderir a padrões alimentares restritos. Por isso, estudos longitudinais e clínicos são necessários para elucidar o sentido dessa relação e os mecanismos envolvidos.
Os potenciais mecanismos benéficos do keto incluem melhora do metabolismo da glicose cerebral, redução da inflamação neural e menor estresse oxidativo, fatores que podem favorecer a saúde mental. Ao mesmo tempo, o consumo frequente de frituras e deficiências nutricionais são riscos possíveis que também precisam ser monitorados em praticantes da dieta.
O estudo amplia o debate sobre abordagens nutricionais na prevenção e manejo de transtornos do humor, reforçando a importância de estratégias alimentares personalizadas para saúde mental. No entanto, os cientistas recomendam que as pessoas busquem orientação profissional antes de adotar dietas restritivas, especialmente quem tem histórico de depressão ou outras condições clínicas.
