Um novo estudo publicado na Evolutionary Psychology trouxe um resultado curioso sobre a ligação entre criatividade e atração romântica: para mulheres, visualizar perfis de parceiros potenciais orientados a relacionamentos de longo prazo aumentou a fluência e a originalidade das ideias — mas apenas quando o nível de excitação sexual era baixo. Paradoxalmente, quanto mais as participantes se sentiam sexualmente atraídas por um pretendente estável, menor era seu desempenho criativo.
A criatividade é um traço admirado e adaptativo, frequentemente associado à capacidade de resolver problemas, comunicar ideias e se destacar em grupos sociais. Diversos estudos já mostraram que criatividade é valorizada na escolha de parceiros, especialmente na perspectiva feminina. Se a criatividade realmente evoluiu como um “ornamento” de seleção sexual, situações ligadas à atração deveriam, teoricamente, aumentar nossa disposição criativa.
No entanto, o novo experimento, conduzido por Katarzyna Galasinska e colegas, demonstra que esse efeito é mais complexo do que se pensava. O contexto emocional — incluindo o tipo de relacionamento desejado e o nível de excitação sexual — pode tanto estimular quanto inibir a expressão criativa das mulheres.
O Efeito Surpreendente de Perfis Atraentes em Mulheres
A pesquisa foi realizada em duas etapas com quase mil participantes heterossexuais adultos, que participaram de experimentos online simulando experiências de aplicativos de namoro. No primeiro estudo, 483 pessoas viram fotos de potenciais parceiros considerados atraentes ou pouco atraentes e, em seguida, escreveram bios criativas para seus próprios perfis de namoro. Raters independentes avaliaram essas biografias em termos de fluência, flexibilidade, originalidade e autopromoção criativa.
No segundo estudo, 494 participantes realizaram testes clássicos de criatividade antes e depois de visualizar perfis de pretendentes descritos como buscando relações curtas ou longas. O foco esteve na criatividade feminina em resposta a diferentes contextos de acasalamento.
O resultado direto? Visualizar parceiros orientados a relacionamentos longos, quando não havia grande excitação sexual, realmente estimulou a criatividade das mulheres, tanto em número quanto em originalidade de ideias. Contudo, quando a excitação sexual era alta, o efeito se inverteu: as mulheres se tornaram menos criativas diante de pretendentes considerados desejáveis e estáveis.
Os pesquisadores sugerem que, sob baixa excitação sexual, o contexto de longo prazo estimula estratégias de autopromoção criativa — talvez para demonstrar valor como parceira. Já sob alta excitação, o foco muda: o esforço criativo é inibido porque a mente se volta à avaliação e seleção cuidadosa do parceiro, reduzindo o investimento em exibição de traços.
Implicações Evolutivas e Sociais: Por Que Isso Acontece?
Esse padrão aparentemente contraditório encontra explicação na teoria da seleção sexual. Em situações de namoro, criatividade pode servir como sinal de inteligência, saúde ou diferenciação, sobretudo para atrair parceiros com potencial de compromisso. Mas quando a atração física e o interesse são intensos, o cérebro feminino pode priorizar processos avaliativos, reduzindo recursos cognitivos para a criatividade naquele momento.
O estudo também destaca que, para homens, a criatividade não variou significativamente de acordo com o tipo de parceiro ou o contexto de excitação. Isso sugere diferenças de estratégia entre os sexos: mulheres podem adaptar sua expressão criativa de acordo com o valor percebido e a motivação para impressionar um parceiro de longo prazo, enquanto homens tendem a ser menos sensíveis ao contexto.
É importante notar que o experimento usou situações artificiais — simulações online e fotos estáticas — o que limita o alcance dos resultados para a vida real, onde múltiplos sinais e interações sutis também entram em jogo. Mesmo assim, o estudo aprofunda a compreensão sobre como estados emocionais, estratégias sexuais e contextos sociais modulam a criatividade feminina.
A descoberta provoca debates sobre os mecanismos inconscientes que orientam a expressão criativa e suas funções evolutivas. Em um mundo cada vez mais mediado por apps de namoro e exposição digital, entender esses padrões pode ajudar tanto na autopercepção quanto na construção de ambientes mais ricos em oportunidades criativas.