Nem todo mundo tem a motivação para relacionamento amoroso pelos mesmos motivos. Um estudo recente, publicado na Personality and Social Psychology Bulletin, revela que pessoas motivadas por razões internas — como desejo genuíno de conexão e intimidade — são significativamente mais propensas a entrar em um relacionamento em apenas seis meses. O trabalho desafia a visão comum de que querer namorar já basta para encontrar alguém: o que importa é o “porquê” da busca amorosa.
A equipe liderada por Geoff MacDonald, da Universidade de Toronto, desenvolveu uma escala inovadora para medir motivações românticas: a Autonomous Motivation for Romantic Pursuit Scale (AMRPS). São seis dimensões: motivação intrínseca (prazer e satisfação pessoal), motivação identificada (alinhamento com valores de vida), introjeção positiva e negativa (autoestima, medo de solidão), motivação externa (pressão social) e amotivação (desinteresse ou ambivalência). Ao analisar respostas de mais de 3.000 adultos solteiros por seis meses, o estudo identificou padrões claros de quem está mais preparado — e apto — a construir um relacionamento estável.
Pessoas motivadas por prazer genuíno ou por ver valor pessoal na relação (motivações intrínseca e identificada) tinham mais chances de encontrar um par e mostraram perfis mais seguros. Além disso, desenvolviam uma relação com menos ansiedade, mais metas sociais e interesse em compromissos sérios. Já quem buscava namoro para evitar sentimentos ruins ou por pressão externa demonstrou mais insegurança, medo de ficar só e apego ansioso. Ademais, também teve menos sucesso amoroso no período analisado.
Nem Sempre A Pressão ou o Medo Leva Ao Amor
O estudo também refutou a ideia de que ceder à pressão social — seja de pais, amigos ou normas culturais — aumenta as chances de relacionamento. Pois quem se envolvia buscando aprovação externa, ou para não se sentir um “fracasso” por estar solteiro, era menos propenso a encontrar um par. A pressão, na verdade, pode aumentar o estresse e dificultar conexões autênticas, criando barreiras emocionais ao invés de facilitar encontros bem-sucedidos.
Curiosamente, o grupo classificado como amotivado (pessoas sem grande desejo ou meta clara para namorar) apresentou, controlados outros fatores, leve tendência a formar casais. A explicação, segundo os autores, pode estar em dois perfis: aqueles plenamente satisfeitos com a solteirice, ou aqueles abertos a envolvimentos casuais — que acabam se surpreendendo ao “pegar gosto” e se conectam genuinamente ao longo do tempo. Ou seja, nem todo desinteresse é absoluto, e a satisfação com a própria vida pode ser um solo fértil para relações inesperadas.
O estudo reforça a ideia clássica: “é preciso estar bem consigo mesmo antes de buscar alguém”. Relacionamentos movidos por prazer, propósito ou alinhamento de valores têm mais chance de florescer do que os pautados por medo, carência ou expectativas externas. A própria escala AMRPS pode ajudar pesquisadores a compreender padrões individuais e contribuir para aconselhamentos mais precisos sobre namoro, solteirice e busca amorosa.
Novos Rumos e o Valor de se Autoconhecer
Apesar de robusto, o estudo reconhece limitações. Pois a amostra era composta por adultos jovens de países ocidentais, o que pode não refletir outras culturas ou faixas etárias. Além disso, o trabalho também não explica exatamente como certas motivações levam a mais sucesso. Pois poderia ser por autoconfiança, persistência, sociabilidade ou outros fatores ainda não totalmente mapeados.
Os autores planejam investigações futuras para desvendar como motivações moldam comportamentos práticos no namoro e que tipo de meta amorosa tende a gerar maior satisfação. Enquanto isso, o principal recado da pesquisa é claro: busque relacionamentos por motivos autênticos e pessoais, não para atender expectativas externas ou fugir do desconforto de estar só. O autoconhecimento, afinal, segue sendo o melhor ponto de partida para encontrar uma conexão verdadeira.
O artigo, “Why Do You Want a Romantic Relationship? Individual Differences in Motives for Romantic Relationship Pursuit”, é assinado por Geoff MacDonald, Serena Thapar e colegas.