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Adultos com TDAH Vivem até 11 anos a Menos, Revela Estudo Massivo no Reino Unido

Índice

Um dos maiores estudos já realizados sobre transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em adultos acaba de trazer uma revelação perturbadora: viver com esse diagnóstico pode custar, literalmente, anos de vida. Publicado no British Journal of Psychiatry, o estudo analisou prontuários médicos de mais de 330 mil pessoas no Reino Unido e revelou que homens com TDAH vivem, em média, 4,5 a 9 anos a menos. No caso das mulheres, a perda estimada chega a 11 anos.

Os dados vêm do IQVIA Medical Research Data, que reúne registros de mais de 790 clínicas de atenção primária no país. A equipe de pesquisadores, liderada por Joshua Stott, professor da University College London, utilizou o método estatístico de tabela de vida para calcular as taxas de mortalidade específicas por idade. Foram incluídos 30.029 adultos diagnosticados com TDAH, comparados com 300.390 indivíduos sem o transtorno — todos pareados por idade, sexo e local de atendimento. A diferença de expectativa de vida foi robusta, mesmo após o controle de variáveis como subnotificação de óbitos.

A conclusão é clara: para adultos com TDAH, especialmente aqueles sem o devido suporte, implica em consequências tangíveis e duradouras. O diagnóstico, muitas vezes visto como um rótulo leve ou exagerado, está associado a um risco silencioso de morte precoce.

Mais do que um Transtorno Comportamental para Adultos com TDAH

Apesar de ainda ser frequentemente associado à infância e escolarização, o TDAH é um transtorno neurodesenvolvimental persistente. Cerca de 90% das crianças diagnosticadas continuam apresentando sintomas na vida adulta — ainda que em intensidades variáveis. A negligência com que o diagnóstico é tratado fora do ambiente pediátrico contribui para que muitos adultos sequer saibam que convivem com o transtorno.

O impacto vai muito além da distração ou da hiperatividade. Pessoas com TDAH enfrentam taxas elevadas de desemprego, baixa escolaridade, dificuldades financeiras, problemas legais e uma incidência maior de distúrbios mentais como depressão, ansiedade e dependência química. Além disso, apresentam maior vulnerabilidade a doenças cardíacas, metabólicas e comportamentos de risco. O conjunto desses fatores compõe um ambiente de risco cumulativo que acelera a deterioração da saúde.

No entanto, o estudo britânico vai além dos sintomas e impactos indiretos. Pela primeira vez em larga escala, ele traduz essas vulnerabilidades em anos concretos de vida perdidos — e mostra que, no caso das mulheres, esse número é ainda mais expressivo.

Um Sistema de Saúde que não Sabe Como Cuidar de Adultos com TDAH

Joshua Stott foi enfático ao afirmar que a causa da redução na expectativa de vida não está no TDAH em si, mas na combinação de exclusões, negligências e lacunas sistêmicas. A maioria dos serviços de saúde — inclusive no Reino Unido — ainda opera como se o TDAH fosse exclusivamente pediátrico. Muitos clínicos gerais não se sentem preparados para diagnosticar ou tratar adultos, o que perpetua a invisibilidade do transtorno.

Essa falha institucional tem efeitos devastadores. Muitos pacientes desistem de buscar ajuda. Outros acabam sendo encaminhados para tratamentos ineficazes ou incompletos, o que contribui para o agravamento dos sintomas e de comorbidades. A ausência de acompanhamento adequado favorece o uso de substâncias, hábitos alimentares nocivos, tabagismo e sedentarismo — fatores que, isoladamente, já impactariam negativamente a saúde.

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Além disso, o TDAH se sobrepõe a realidades socioeconômicas desfavoráveis. A pesquisa identificou uma prevalência maior de pobreza e até mesmo de situação de rua entre os diagnosticados, o que dificulta ainda mais o acesso a serviços básicos de saúde e multiplica os riscos de mortalidade precoce.

Uma Questão de Políticas Públicas, não de Falta de Vontade

O estudo é contundente ao afirmar que a maioria dos fatores que reduzem a expectativa de vida em pessoas com TDAH são preveníveis. O problema não é biológico — é estrutural. Diagnóstico tardio, ausência de protocolos, formação médica deficiente e políticas públicas ineficazes criam um ciclo de invisibilidade que marginaliza um grupo inteiro de cidadãos.

A resposta está no fortalecimento das estratégias nacionais de saúde mental voltadas para o público adulto. Assim, isso envolve capacitação de profissionais da atenção primária, ampliação do acesso a tratamentos baseados em evidência, e desenvolvimento de campanhas de conscientização sobre o impacto do TDAH fora da infância. Iniciativas de cessação do tabagismo, combate ao alcoolismo e prevenção do suicídio também precisam ser adaptadas à realidade desse público.

É também fundamental que o diagnóstico deixe de ser encarado como uma “categoria leve” no espectro da saúde mental. O estudo mostra que não se trata apenas de qualidade de vida — trata-se de vida ou morte.

O Peso Científico e as Fraturas da Realidade

Assinado por um grupo de oito pesquisadores — incluindo Elizabeth O’Nions, Céline El Baou e Irene Petersen — o artigo traz peso metodológico, amplitude de dados e coerência estatística. Mas seus números não se prestam apenas à academia. Eles revelam uma fratura invisível na forma como lidamos com diagnósticos neuropsiquiátricos na fase adulta.

Durante o período de observação, as taxas de mortalidade entre adultos com TDAH foram constantemente superiores em todas as faixas etárias. Entre os homens, 0,83% faleceram, contra 0,52% no grupo controle. Entre as mulheres, 2,22% contra 1,35%. Os anos de vida perdidos (YLL) foram mais severos justamente entre aquelas que, historicamente, recebem menos diagnósticos — mulheres adultas.

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Esses dados dialogam com estudos anteriores realizados nos EUA e em países escandinavos. Pois uma meta-análise multinacional já havia apontado que o risco de morte precoce dobra em pessoas com TDAH. Além disso, outro estudo de longo prazo nos EUA estimou que a hiperatividade infantil pode reduzir em até 13 anos a expectativa de vida entre os que mantêm o transtorno na vida adulta.

A convergência desses achados exige ação imediata — mas também empatia. Porque, por trás das estatísticas, há vidas atravessadas por exclusão, descrença e silêncio institucional.

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