O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é frequentemente associado a homens, principalmente durante a infância; no entanto, mulheres com TDAH enfrentam um desafio particular. Pois seu diagnóstico é frequentemente tardio ou ignorado. Em meninos, os sintomas são marcados pela hiperatividade e impulsividade,. No entanto, em meninas eles tendem a se manifestar de forma mais sutil, como ansiedade, depressão e dificuldades emocionais internas.
Essas diferenças vão além da percepção e refletem realidades biológicas e sociais. A sociedade frequentemente impõe às meninas com TDAH expectativas culturais que mascaram seus sintomas, como a pressão para se comportarem de forma “adequada” e demonstrarem maturidade emocional. Como resultado, muitas só recebem o diagnóstico na idade adulta, quando os sintomas, acumulados e sem tratamento, já causaram um impacto significativo em suas vidas.
A negligência no diagnóstico tem repercussões graves. Mulheres não diagnosticadas enfrentam riscos elevados de desenvolver transtornos emocionais e comportamentais, incluindo comportamentos de risco, como demonstrado no estudo publicado no BMC Psychiatry.
Como o TDAH Impacta a Tomada de Decisões em Mulheres
O estudo liderado por Alexandra Philipsen e Silke Lux revelou que mulheres com TDAH apresentam comportamentos mais arriscados do que homens com o mesmo transtorno. Usando a tarefa de risco conhecida como Balloon Analogue Risk Task (BART), pesquisadores avaliaram como os participantes reagiam a situações de risco que envolviam potenciais ganhos e perdas monetárias.
Os resultados foram reveladores. Enquanto homens com TDAH mostraram maior controle sobre suas decisões, mulheres com TDAH foram significativamente mais impulsivas, arriscando mais do que seus pares masculinos e do que as mulheres sem TDAH. Esses comportamentos podem estar relacionados à menor percepção de risco por parte das mulheres, conforme indicado pelos questionários aplicados.
Além disso, a desconexão entre a percepção de risco e o comportamento efetivo foi um achado crucial. Mulheres com TDAH relataram menor sensibilidade a seus próprios comportamentos arriscados, o que sugere um desafio adicional na regulação emocional e cognitiva que vai além do TDAH típico. Esse aspecto reforça a importância de compreender as nuances emocionais e psicológicas que moldam a experiência do transtorno em mulheres.
Limitações e Desafios: O Que o Estudo Deixa Claro Sobre Mulheres com TDAH?
O estudo traz contribuições valiosas, mas apresenta algumas limitações importantes. Os pesquisadores suspenderam os medicamentos para TDAH dos participantes 24 horas antes do experimento, o que pode não ter eliminado completamente seus efeitos, assim influenciando os resultados. Além disso, o número relativamente pequeno de participantes reduz a possibilidade de generalizar os achados.
Apesar dessas limitações, as conclusões mostram-se contundentes: o TDAH manifesta-se de maneira diferente entre os gêneros, e essas diferenças exigem atenção. As mulheres enfrentam desafios específicos que requerem estratégias de diagnóstico e tratamento mais direcionadas e eficazes.
O estudo abre portas para discussões sobre como as abordagens tradicionais podem estar deixando para trás uma parcela significativa da população. Além disso, ele questiona até que ponto os profissionais de saúde estão preparados para lidar com as complexidades do TDAH em mulheres, especialmente aquelas que apresentam padrões de comportamento fora do esperado.
A Urgência de Estratégias Sensíveis ao Gênero no TDAH
As descobertas deste estudo reforçam a necessidade de uma abordagem personalizada no diagnóstico e tratamento do TDAH. Ignorar as diferenças de gênero perpetua desigualdades no acesso a cuidados adequados, com impactos de longo prazo na saúde mental e emocional das mulheres.
Profissionais de saúde devem estar atentos aos sinais menos óbvios do TDAH em mulheres, como dificuldades emocionais, baixa autoestima e padrões de comportamento arriscado. Além disso, políticas de saúde devem priorizar campanhas de conscientização que abordem as nuances de gênero, garantindo que mais mulheres tenham acesso ao diagnóstico precoce e a intervenções eficazes.
Afinal, compreender as diferenças no TDAH entre homens e mulheres não é apenas uma questão de ciência; é uma questão de justiça e equidade. Ignorar essas nuances é perpetuar uma negligência histórica que penaliza milhares de mulheres em todo o mundo.
O estudo completo pode ser acessado em BMC Psychiatry: “Sex differences in physiological correlates of affectively driven decision-making behavior in adult ADHD,” por Eva Halbe, Alina Sophie Heger, Fabian Kolf, Philippa Hüpen, Moritz Bergmann, Ben J. Harrison, Christopher G. Davey, Alexandra Philipsen, e Silke Lux.