Amy Reichelt, Western University
Você já acordou de manhã (ou à tarde) com uma nuvem de preocupação depois de beber na noite anterior?
Com o fim da temporada de festas — após semanas de comemorações de Natal, festas de fim de ano e celebrações de Ano Novo — muitos de vocês podem estar lidando com uma ressaca de ansiedade, ou “hangxiety”, após terem se divertido um pouco demais.
Como neurocientista pesquisando como comida e bebida afetam a função cerebral, deixe-me explicar como o consumo de álcool pode desencadear a “hangxiety” no dia seguinte.
De Tequila a Endorfinas e Dopamina
Bebidas alcoólicas — cerveja, vinho ou destilados — desregulam o delicado equilíbrio de substâncias químicas no cérebro, chamados neurotransmissores. O álcool exerce uma combinação de efeitos na função cerebral que podem ser agradáveis no momento, mas muito menos divertidos no dia seguinte.
Os efeitos prazerosos do álcool ocorrem devido à liberação de endorfinas — hormônios opiáceos naturais no cérebro.
Sentimentos positivos também vêm do aumento na liberação de dopamina, ativando o sistema de recompensa do cérebro — a via mesolímbica. A liberação de dopamina reforça comportamentos, tornando mais provável que repitamos o que causou o aumento de dopamina.
Assim, rapidamente aprendemos que o shot de tequila ou o copo de vinho nos fez sentir bem, fazendo-nos querer mais.
Mas o álcool afeta mais do que apenas as substâncias químicas de recompensa no cérebro. Ele altera os níveis de neurotransmissores que controlam a atividade e a função cerebral. Imagens cerebrais mostram que o álcool reduz a atividade no córtex pré-frontal e no lobo temporal — centros-chave para tomada de decisão, autocontrole e memória.
Sentimentos de Ansiedade, Inquietação e Estresse
O álcool aumenta a atividade do principal químico inibitório do cérebro, o GABA (ácido gama-aminobutírico), imitando seus efeitos nas sinapses — as conexões entre neurônios.
O GABA reduz a atividade dos neurônios, e o álcool exagera esse efeito. O aumento do GABA promove sentimentos de relaxamento e calma, tornando-nos mais sociáveis e menos estressados.
Após algumas bebidas a mais, o álcool bloqueia o sistema de glutamato. O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório no cérebro, desempenhando um papel importante na formação de memórias e emoções.
O equilíbrio entre GABA e glutamato é vital para o funcionamento ideal do cérebro. O álcool altera esse equilíbrio. Ele é chamado de depressor do sistema nervoso central porque aumenta o GABA inibitório e diminui o glutamato excitatório.
Quando seu cérebro percebe altos níveis de GABA e baixos níveis de glutamato, ele rapidamente se adapta para contrabalançar esse desequilíbrio. Mudanças compensatórias resultam em baixos níveis de GABA e aumento de glutamato, causando sentimentos de ansiedade, inquietação e estresse que persistem no dia seguinte.
Oh Não… eu Realmente Fiz Isso?
Depois de várias bebidas alcoólicas, a transmissão de glutamato diminui no lobo temporal medial — a região do cérebro onde as memórias são formadas.
A amnésia induzida pelo álcool, ou “apagões”, ocorre devido a um aumento rápido nos níveis de álcool no sangue, muitas vezes causado por bebedeiras. Uma bebedeira é definida como mais de quatro ou cinco doses em duas horas para mulheres e homens, respectivamente.
Com o cérebro sóbrio, as memórias são formadas após a transferência de informações da memória de curto prazo para a memória de longo prazo. Esse processo é chamado de consolidação da memória. As memórias dos eventos podem então ser recuperadas e lembradas.
O álcool interfere na consolidação e na recuperação das memórias, levando a confusão e incerteza no dia seguinte. Essas memórias turvas dos eventos da noite (“Oh não… eu realmente fiz isso?!”) podem causar grande ansiedade.
O álcool também prejudica drasticamente a qualidade do sono, reduzindo a fase REM do sono, quando ocorrem os sonhos. O sono REM é crucial para codificar memórias de longo prazo. Assim, uma noite de sono ruim após beber álcool pode fragmentar as memórias.
Pessoas Tímidas Sofrem Mais
Nem todo mundo experimenta “hangxiety”, mas alguns podem vivê-la mais intensamente. Um estudo recente descobriu que a intensidade da experiência varia entre as pessoas com base em traços de personalidade, enquanto controla-se o consumo de álcool e os níveis de álcool no sangue.
Indivíduos com mais traços relatados de timidez apresentaram níveis mais altos de ansiedade após o consumo de álcool em comparação com pessoas com menores níveis de timidez.
É Possível Evitar a Hangxiety?
A única maneira garantida de evitar a ressaca de ansiedade é não beber álcool.
Você pode, no entanto, reduzir os efeitos adversos do álcool bebendo menos. Ao intercalar bebidas alcoólicas com copos de água, é possível evitar o aumento rápido do álcool no sangue, que prejudica a memória, e manter-se hidratado para reduzir a dor de cabeça no dia seguinte.
Amy Reichelt, Bolsista de Pesquisa BrainsCAN na Escola de Medicina e Odontologia Schulich da Western University, Western University
Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.
