Nos últimos anos, o fogo vêm devastando áreas no Cerrado, Amazônia e Pantanal, onde os incêndios têm se tornado mais frequentes e intensos, causando destruição sem precedentes em ecossistemas essenciais do Brasil. Essa tendência alarmante reflete um aumento global na ocorrência de incêndios extremos, conforme revela um estudo recente. De acordo com a análise de dados de satélite, a frequência desses eventos mais que dobrou nas últimas duas décadas, afetando também grandes áreas do Canadá, oeste dos Estados Unidos e Rússia. Os cientistas apontam que as mudanças climáticas desempenham um papel crucial nesse crescimento preocupante, exacerbando a severidade dos incêndios em todo o mundo.
Estamos Vivendo o “Piroceno” ou Era dos Incêndios
Pesquisadores da Universidade da Tasmânia, na Austrália, revelaram descobertas surpreendentes em um estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution. Por meio da análise de dados de satélite, os cientistas mediram a intensidade energética – que se refere à quantidade de energia liberada pelos incêndios – de quase 31 milhões de incêndios diários ao longo de duas décadas, trazendo à tona uma realidade preocupante. Os resultados mostraram que, nos últimos vinte anos, a frequência dos incêndios extremos aumentou 2,2 vezes, ou seja, o número de eventos de queimadas intensas mais que dobrou. Além disso, a intensidade média dos 20 incêndios mais severos registrados a cada ano aumentou 2,3 vezes. Isso significa que além de mais comuns, os incêndios extremos ficaram significativamente mais poderosos e destrutivos. Assim, liberando muito mais energia do que no passado.
Esse aumento dramático na atividade dos incêndios não se restringe apenas a determinadas regiões. Enquanto a intensificação dos incêndios florestais no oeste dos Estados Unidos já era conhecida, o estudo evidenciou que identificar uma tendência global de forma abrangente é um desafio devido à variabilidade regional. No entanto, os dados sugerem um padrão alarmante de crescimento dos incêndios extremos, sublinhando a necessidade urgente de compreender e mitigar os fatores que contribuem para essa escalada.
Norte Global Parece Estar Vulnerável ao Fogo
As florestas mais afetadas pelo fogo extremo foram aquelas com árvores coníferas, como abetos e pinheiros, na América do Norte. Estas áreas mostraram um aumento impressionante de 11,1 vezes no número de queimadas extremas, destacando a vulnerabilidade dessas florestas ricas em combustíveis naturais. As florestas boreais de altas latitudes, encontradas no Canadá, Estados Unidos e Rússia, também foram significativamente impactadas. Essas florestas, registraram um aumento de 7,3 vezes na ocorrência de queimadas. Esses ambientes, que possuem um clima frio e grandes quantidades de matéria orgânica acumulada, são particularmente suscetíveis a incêndios intensos quando as condições climáticas se tornam favoráveis.
O estudo não apenas quantifica o aumento nos incêndios extremos, mas também aponta para a mudança na intensidade desses eventos. A maior frequência e intensidade dos incêndios estão associadas ao aquecimento global, que causa o ressecamento dos ecossistemas, tornando-os mais propensos a queimadas. Além disso, o aumento das temperaturas noturnas, observado nos últimos anos, contribui para a manutenção e crescimento dos incêndios, já que o fogo não encontra condições mais frias para se extinguir durante a noite.
Precisamos Entender Que o Impacto do Fogo Vai Além da Floresta Queimada
Os incêndios extremos estão se tornando mais frequentes e intensos, trazendo consequências devastadoras para ecossistemas e comunidades ao redor do mundo. Na América do Sul, a intensificação dos incêndios na Amazônia, por exemplo, não só ameaça a fauna e flora, mas também desempenha um papel crucial no agravamento das mudanças climáticas globais. A destruição da maior floresta tropical do mundo libera enormes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, exacerbando ainda mais o aquecimento global. No Pantanal, o fogo ameaça inúmeras espécies e compromete as atividades econômicas locais, como o ecoturismo, pecuária e a pesca.
Além disso, a segurança alimentar está em risco. A agricultura e a pecuária, que dependem de um ambiente estável e saudável, são severamente impactadas pelos incêndios. As queimadas destroem pastagens e terras cultiváveis, diminuindo a produtividade agrícola e afetando a produção de alimentos. Isso não só prejudica os agricultores e pecuaristas, mas também ameaça o abastecimento de alimentos para a população. O impacto do fogo acaba indiretamente elevando os preços, reduzindo a variedade e qualidade de produtos e, por consequência, aumentando a insegurança alimentar.
A contaminação da água é outro problema sério decorrente dos incêndios florestais. As cinzas e os resíduos resultantes das queimadas poluem rios e reservatórios, comprometendo a qualidade da água potável e afetando a saúde de milhares de pessoas. Essa poluição também impacta a fauna aquática e as atividades pesqueiras, essenciais para a subsistência de muitas comunidades.
O Que Podemos Fazer?
Essas evidências sublinham a urgência de ações imediatas e eficazes para mitigar as mudanças climáticas e proteger nossas florestas. Políticas de manejo florestal mais rigorosas, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis e a implementação de estratégias de prevenção de incêndios são essenciais. Além disso, é crucial que haja uma colaboração internacional para enfrentar essa crise, compartilhando conhecimento, tecnologia e recursos.
Somente através de um esforço global coordenado e do compromisso de todos os setores da sociedade poderemos reverter essa tendência perigosa e garantir um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações. A proteção das nossas florestas não é apenas uma questão ambiental, mas uma necessidade vital para a saúde do planeta e de todos os seus habitantes.